O Wagner Group e a crescente influência dos mercenários russos na África

Artigo vê a presença dos mercenários como forma de Moscou se fortalecer no continente. Mas afirma que a missão é complicada

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site Militant Wire

Por Scott Morgan

Um dos desenvolvimentos mais notáveis ​​na ascensão global de companhias militares privadas (PMC, na sigla em inglês) nos últimos anos é a expansão da presença do Wagner Group, da Rússia, na África. Há preocupação com a rápida disseminação do grupo, e a legalidade de suas operações é questionável.

Vale a pena examinar o status atual da organização paramilitar, pois, de acordo com o artigo 13.5 da Constituição russa, os PMCs são ilegais. O que se sabe é que o grupo foi criado por Dmitry Utkin. Apesar deste fato, a maioria dos analistas se concentra no papel de Yevgeny Prigozhin, um conhecido aliado político do presidente russo Vladimir Putin em todas as ações desta empresa. Em relação a isso, há alguns fatos significativos a serem destacados.

Estruturalmente, o Wagner Group pode, com razão, ser considerado um híbrido. Embora seu papel declarado como PMC seja bem conhecido, as atividades do Wagner se expandiram para incluir a extração de recursos. De maneira mais ampla, o Wagner Group parece ser uma ferramenta política e militar para o Estado russo, permitindo que ele exerça influência no exterior, o que lhe oferece a cobertura de negação plausível, de acordo com o think tank CSIS, com sede em Washington. Determinar o verdadeiro relacionamento do Wagner com o Estado russo responderá a perguntas-chave sobre seu futuro papel na África.

O Wagner Group e a crescente influência dos mercenários russos na África
Munições não deflagradas na guerra civil da Líbia, onde o Wagner Group marcou presença (Foto: Flickr)

Ao longo dos últimos anos, a presença do Wagner na África foi sentida por alguns como uma forma de a Rússia se envolver novamente na África. Para a Rússia, foi positivo, mas causou alguma consternação em Washington e Paris. A presença na República Centro-Africana é um exemplo perfeito. O relacionamento começou em 2017, quando a nação africana estava pedindo armas e a Rússia fez uma oferta para fornecê-las. O próximo pedido das autoridades de Bangui foi de ajuda para levantar o embargo de armas contra o país. A Rússia então se aproximou do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) pedindo uma dispensa para treinar dois batalhões do Exército. A aprovação consolidou a relação entre os dois países.

Mas aqui é onde as coisas ficam obscuras. Oficialmente, o Wagner não tem presença na República Centro-Africana. No entanto, há preocupações sobre como os ex-alunos do Wagner ocupam cargos-chave na atual administração do presidente Faustin-Archange Touadera. As preocupações são muito altas, pois as tensões entre os russos e as forças de paz da ONU em relação às operações atuais permanecem. O anúncio de que a ONU estava investigando o papel dos paramilitares russos em um incidente em Bria que resultou na morte de 30 civis em 16 de janeiro parece mostrar que a ONU e a União Europeia (UE) estão corretas em suas preocupações com o Wagner. Deve-se notar que as atividades do grupo na República Centro-Africana estão entre as razões pelas quais a UE decidiu impor sanções contra o grupo.

A presença do Wagner Group no Sudão também chamou a atenção dos analistas. O Wagner entrou no Sudão pela primeira vez em 2019 para ajudar as forças de segurança a lidar com os protestos contra o então presidente Omar Bashir. Mesmo com Bashir deposto em um golpe militar, ele ainda manteve laços estreitos com a Rússia através da presença da organização.

O Wagner Group e a crescente influência dos mercenários russos na África
General líbio Khalifa Haftar em visita à Rússia (Foto: Ministério das Relações Exteriores da Rússia/Flickr)

Outra relação que está sob escrutínio de analistas de segurança no Ocidente é a do Wagner na Líbia com o general Khalifa Haftar, líder militar da facção da Câmara dos Representantes, com sede na parte leste do país. A assistência do Wagner Group a Haftar foi considerada central para a guerra, e o esforço para que as tribos do sul se aliassem ao general também foi coordenado pelo Wagner. Uma ressalva para as eleições na Líbia é a remoção de mercenários, exigida no acordo para realização de eleições presidenciais. Isso leva à questão de saber se o Wagner deixará a Líbia.

Algumas das aventuras estrangeiras de Wagner foram ainda mais caras para a organização do que a derrota de seu aliado e cliente na Líbia. A empresa sofreu um duro golpe em Moçambique. Os ativos da empresa foram implantados na região de Cabo Delgado, no norte do país. No entanto, o grupo se retirou da área após uma série de incidentes que resultaram em fatalidades dentro do grupo.

Mali é o último país a buscar apoio do Wagner. Sua presença recente no país criou mais controvérsia do que suas operações na Líbia e na República Centro-Africana. No início deste mês, “treinadores russos” chegaram a Timbuktu substituindo as tropas francesas que haviam desocupado uma instalação militar há pouco tempo.

Atualmente, há uma força-tarefa militar liderada pela Europa ajudando o Mali sob uma campanha chamada Operação Takuba. A intenção era fazer com que as Forças Especiais da UE treinassem, aconselhassem e acompanhassem as tropas do Mali em operações contra grupos militantes. Já foi anunciado que a Suécia vai retirar as tropas que atualmente tem no país que apoiam a missão. Esse movimento é um golpe para a Operação Takuba, já que os suecos estão no comando da missão até 1º de março de 2022. A Suécia também está revisando seu compromisso com a missão da ONU no país. A força também é enfraquecida pela decisão da Dinamarca de retirar seu contingente.

O Wagner Group e a crescente influência dos mercenários russos na África
Assimi Goita, coronel que governa o Mali: mercenários na folha de pagamento (Foto: reprodução/Twitter)

É possível que o novo anúncio das autoridades interinas do Mali para adiar as eleições prometidas em fevereiro de 2022 possa ser uma jogada cínica da liderança do país para se isolar da remoção pela CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental). Outra linha de pensamento é que o anúncio pretendia sinalizar o descontentamento do governo maliano com a duradoura presença militar francesa no país desde 2012. Recentemente, o governo aproveitou a necessidade da França de reequilibrar suas forças de segurança para enfrentar outros desafios na região, como no Níger e em Burkina Faso.

A presença reduzida das forças francesas no Mali, bem como a raiva política que a França enfrenta na África Ocidental devido às suas políticas agressivas em relação à região, apresenta uma oportunidade significativa para Moscou aproveitar a região, mostrando-se como uma alternativa viável. Moscou se destaca em explorar essas oportunidades. Enquanto a raiva contra a França continuar fervendo, o Wagner Group encontrará países dispostos. No entanto, o registro na África mostra que será um desafio para as PMCs russas alcançarem o sucesso.

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