Chefe da OMS diz que um tio foi ‘assassinado’ por tropas da Eritreia em Tigré

Tedros Ghebreyesus alega que cerca de 50 pessoas teriam sido mortas na vila onde estava o tio dele, no norte da Etiópia

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), responsabilizou na quarta-feira (14) as tropas da Eritreia pela morte de um tio dele na região de Tigré, na Etiopia, palco de um confronto étnico que fez dezenas de milhares de vítimas nos últimos dois anos. As informações são da rede BBC.

“No sábado (10), fui informado de que meu tio foi assassinado pelo exército da Eritreia”, disse o chefe da entidade durante um evento sobre Covid-19 em Genebra, na Suíça. “Falei com a minha mãe e ela ficou realmente arrasada, porque ele era o caçula da família”, emendou.

Segundo Ghebreyesus, que é da etnia tigré e tem sido um duro crítico das ações do governo etíope na região, cerca de 50 pessoas teriam sido mortas na vila onde estava o tio dele. Entretanto, ele não forneceu maiores detalhes sobre o local ou o dia em que ocorreram as mortes.

Em novembro, o governo da Etiópia assinou um acordo de cessar-fogo com a  TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado que atua em Tigré, no norte do país. Porém, as forças da região vizinha de Amhara, bem como a Eritreia, tradicional aliada de Addis Abeba, não fazem parte do pacto e mantêm as hostilidades contra os tigrés.

“Espero que este acordo se mantenha e esta loucura pare. Mas é um momento muito difícil para mim”, disse o diretor-geral da OMS, que chegou a cogitar o adiamento do evento em Genebra sob o argumento de que “não estava em boa forma” devido às notícias a respeito do tio.

O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, em maio de 2018 (Foto: UN Photo/Elma Okic)
Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando novos confrontos eclodiram. Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar.

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