Os conflitos armados na Etiópia chegaram ao seu patamar mais alto desde o início das disputas na região de Tigré. A violência já se espalha pelo país e confirma as previsões mais pessimistas de especialistas na política etíope.
O saldo de mortos em 48 horas já chega a 150 – todos em meio às disputas interétnicas, apontou a Reuters. Nesta quinta (24), um embate entre tropas etíopes e homens armados resultou em 42 mortos em Benishangul-Gumuz.
Conforme a emissora etíope Fana TV, as vítimas estavam envolvidas no ataque ao vilarejo de Bekoji, que matou mais de 100 pessoas nesta quarta (23). As forças da Etiópia relatam ter apreendido arcos, flechas e outras armas na ação.
O ataque ao amanhecer pegou os moradores de Bekoji de surpresa, relatam testemunhas. Enquanto tentavam fugir, muitos cidadãos foram atingidos com golpes de faca e armas de fogo, disse um médico à Associated Press.
As mortes seriam uma resposta a disputas por terras. A região, que é lar de diversos grupos étnicos, passou a ser alvo de fazendeiros e empresários da província vizinha, Amhara.
Os nativos reclamam que o grupo está tomando as terras férteis, sobretudo na zona de Metekel, onde ocorreram os ataques. Em Tigré, militares lutam contra rebeldes há mais de seis semanas.
O conflito já forçou o deslocamento de 950 mil pessoas, grande parte para o Sudão. O governo etíope ainda tenta conter insurgência na região de Oromia. Na porosa fronteira oriental, militantes islâmicos somalis ameaçam invadir o país.
Violações
Apesar de Adis Abeba ter reduzido o bloqueio às telecomunicações em Tigré, a região já completa seis semanas sem acesso às redes de telefone e internet, em meio ao conflito na região.
Os militares também dificultam o acesso à ajuda humanitária, o que empurra milhares de cidadãos para a fome. A Organização das Nações Unidas (ONU) já alertou para violações dos Direitos Humanos nessas ondas de violência em toda a Etiópia.
“Recebemos denúncias de ataques de artilharia em áreas povoadas, alvos deliberados contra civis, execuções extrajudiciais e saques generalizados”, apontou a alta comissária do Escritório da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet.
A violência na Etiópia se acentuou no início de novembro, quando o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou tropas a Tigré após um suposto ataque em uma base militar que envolveu roubo de artilharia.
O premiê acusa os líderes de Tigré de desrespeitarem a Constituição etíope. O partido realizou eleições locais no dia 9 de setembro sem a autorização do governo, que adiou o pleito para 2021 por conta da pandemia do novo coronavírus.