Na Etiópia, eleição local vira queda de braço entre grupos étnicos e governo federal

Não houve registro de violência durante votação, considerada inconstitucional pelo governo em Adis Abeba

Em Tigré, na Etiópia, o governo local desobedeceu o adiamento das eleições locais, imposto pelo premiê, Abiy Ahmed. Nesta quarta (9), centenas de eleitores foram às urnas no pleito, que transcorreu normalmente, registrou o portal VOA Africa.

Mesmo em meio à tensão com Adis Abeba, a votação ocorreu sem registros de violência, informou a Reuters. A participação foi de 97%, disse o chefe da comissão eleitoral regional, Muluwork Kidanemariam. A população conhecerá os vencedores até domingo (13).

As eleições etíopes estavam marcadas em todo país para 29 de agosto, mas foram postergadas por causa da pandemia do coronavírus. Em Tigré, autoridades locais mantiveram o pleito mesmo após legisladores afirmarem que a votação em um único estado seria inconstitucional.

Na Etiópia, região de Tigré mantém eleições e desafia Abiy Ahmed
Nacionalistas da cidade de Axum, na região de Tigré, antes das eleições etíopes de 2015 (Foto: Flickr/Jasmine Halki)

Os opositores de Abiy Ahmed afirmam que postergar o pleito é uma forma de o primeiro-ministro garantir tempo extra no poder. O desgaste entre o governo central e as autoridades de Tigré começou ainda em 2018, na posse de Ahmed, do grupo étnico rival Oromo.

Na terça (8), o governo de Tigré afirmou que qualquer tentativa de interromper a eleição seria uma “declaração de guerra”. O objetivo era marcar posição contra o governo de Abiy Ahmed, que tenta conciliar mais de 80 grupos étnicos espalhados pela Etiópia.

Na quarta (9), Abiy comparou a votação com um construção de barracos por posseiros, registrou a Reuters. “São como moradores ilegais. Não possuem títulos de propriedade e não dormem de olhos fechados”, pontou.

O premiê ainda não detalhou como responderá a Tigré, mas descartou o uso da força.

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