Exército do Sudão é acusado de atacar universidade e matar congoleses

Conflito sudanês, que está em sua oitava semana, resultou na morte de centenas de civis e já fez um milhão de deslocados internos

De acordo com o governo da República Democrática do Congo, dez de seus cidadãos foram mortos durante um ataque do exército do Sudão a um campus universitário sudanês no domingo (4). O incidente ocorreu à tarde, pelo horário local, na Universidade Internacional da África, em Cartum. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Em coletiva de imprensa, o chanceler congolês Christophe Lutundula expressou consternação com o fato de o ataque ter sido realizado pelo exército regular sudanês, mesmo sabendo da presença de estrangeiros no local. A violência que explodiu no Sudão em abril é fruto de um confronto entre forças armadas e paramilitares ligados à violenta milícia Janjawi.

“O que nos dói muito é que foi o exército regular que lançou as bombas sabendo que havia estrangeiros lá”, disse o ministro das Relações Exteriores congolês, acrescentando que os ataques foram realizados em uma área habitada por civis e populações desarmadas. Acrescentou que outros compatriotas também foram gravemente feridos.

Entrada da Universidade Internacional da África em Cartum, local do ataque (Foto: WikiCommons)

A cidade de Cartum tem sido o epicentro de conflitos, e muitos civis, incluindo estrangeiros, ainda não foram evacuados e têm sido afetados pelos confrontos diretos.

Na segunda-feira (5), Lutundula se reuniu com o encarregado de negócios da embaixada do Sudão em Kinshasa para transmitir ao governo sudanês “a mensagem de tristeza e protesto” do governo congolês.

Além disso, o governo congolês fez um apelo às autoridades sudanesas para que estabeleçam um corredor humanitário, permitindo a evacuação dos feridos no ataque e daqueles que ainda estão retidos no Sudão.

O chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, expressou sua consternação também pela morte de dez refugiados em um ataque em Cartum, porém, sem fornecer informações mais detalhadas.

Segundo a rede BBC, a trégua humanitária entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF), que teve início em 22 de maio, oficialmente expirou na noite de sábado (3), embora tenha sido frequentemente violada por ambas as partes.

O conflito, que está em sua oitava semana, resultou na morte de centenas de civis e obrigou mais de um milhão de pessoas a abandonarem suas casas.

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das forças armadas, e Mohamed Hamdan Daglo, apelidado de “Hemedti”, à frente das Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês), corpo paramilitar da violenta milícia Janjawid, que combateu os rebeldes de Darfur.

As tensões iniciadas em 15 de abril decorrem de divergências sobre como cem mil soldados da milícia paramilitar devem ser integrados ao exército e quem deve supervisionar esse processo. 

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões do país, as nações estrangeiras que tinham cidadãos e representantes diplomáticos no Sudão realizaram um processo de evacuação, viabilizado por um frágil cessar-fogo que não foi totalmente respeitado pela partes. Muitos estrangeiros, porém, não conseguiram sair.

Tags: