Confrontos entre exército e paramilitares no Sudão já mataram quase cem pessoas

Entre as vítimas estão três voluntários do Programa Mundial de Alimentos, o que gerou uma mensagem de repúdio das Nações Unidas

Combates violentos que eclodiram no sábado (15) entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês), em Cartum, capital do Sudão, entraram no terceiro dia nesta segunda-feira (17). O saldo da disputa pelo poder até o momento é de pelo menos 97 mortos e 356 feridos, segundo dados do Comitê Central de Médicos Sudaneses, uma organização independente. As informações são da rede CNN.

A luta coloca frente a frente os dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das forças armadas, e Mohamed Hamdan Daglo, apelidado de “Hemedti”, à frente das FSR, corpo paramilitar da violenta milícia Janjawid, que combateu os rebeldes de Darfur. 

As tensões recentes decorrem de divergências sobre como cem mil soldados da milícia paramilitar devem ser integrados ao exército e quem deve supervisionar esse processo. 

Um avião da Saudi Airlines foi alvo de tiros no sábado no aeroporto internacional de Cartum quando se preparava para descolar para Riad (Foto: captura de tela/Redes sociais)

No início do domingo (16), explosões puderam ser ouvidas no centro de Cartum no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da Força Aérea Sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Nesta segunda, o Comitê Central de Médicos disse que vários hospitais e instituições de saúde em todo o país suspenderam os serviço devido a danos na infraestrutura e cortes de energia, à medida que os confrontos vêm ganhando força.

“Hospitais e instituições de saúde em Cartum e outras cidades do Sudão foram bombardeados com artilharia e armas de fogo”, disse o sindicato em um comunicado, acrescentando que “o Hospital Universitário Al-Sha’ab, o Hospital Universitário de Cartum e o Hospital da Polícia estão completamente fora de serviço devido ao bombardeio”.

Os ataques também atingiram a televisão estatal, que ficou um dia fora do ar. Quando o sinal foi restabelecido, uma mensagem disse que “as forças armadas conseguiram recuperar o controle da emissora nacional após repetidas tentativas das milícias de destruir sua infraestrutura”.

ONU suspende atividades

Entre as quase cem vítimas registradas até o momento estão três membros do Programa Mundial de Alimentos (PMA), segundo confirmou o emissário das Nações Unidas no Sudão, Volker Perthes. 

Por conta disso, a agência da ONU anunciou que suspendeu as suas atividades no país. O secretário-geral António Guterres também se pronunciou, pedindo que a responsabilidade fosse apurada, com os autores dos crimes julgados.

Em comunicado, a ONU disse que “as Nações Unidas e outras instalações humanitárias também foram atingidas por projéteis e saqueadas em vários locais em Darfur”.

Desde 2003, os combates entre o exército e milícias aliadas ao ex-presidente Omar al-Bashir já mataram cerca de 300 mil pessoas. Além disso, forçaram o deslocamento de milhões, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). Al-Bashir foi deposto em abril de 2019, após uma série de disputas iniciadas ainda em 2018.

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