Derrotado por civis, Al-Shabaab invadiu hospital para tratar combatentes

Grupo terrorista teria sofrido duras baixas quando um grupo de moradores da cidade de Badho, na Somália, os atacou

O grupo extremista Al-Shabaab, ligado à Al-Qaeda, assumiu o controle de um hospital na região central da Somália no último domingo (19). O objetivo do grupo era usar os serviços médicos para recuperar combatentes que ficaram feridos em um embate com civis na cidade de Bahdo, Estado de Galmadug. As informações são do site local Garowe.

Quando assumiram o controle do Hospital Distrital El-Bur, os terroristas forçaram todos os pacientes que estavam em tratamento a deixar o local. Entre as pessoas expulsas estavam mulheres grávidas e crianças.

De acordo com a imprensa estatal, ao menos 80 terroristas foram levados para receber tratamento, enquanto 37 já chegaram ao hospital mortos.

Os combatentes admitidos no hospital haviam sido feridos num combate contra moradores de Bahdo na sexta-feira (17). Relatos de testemunhas sugerem que cerca de cem membros do Al-Shabaab morreram e muitos outros conseguiram escapar para a floresta quando os civis se uniram para combater os invasores. O exército somali não teria participado da ação.

O grupo extremista, entretanto, sugere outros números: nove terroristas e 27 civis mortos. Os moradores de Bahdo contestam essa afirmação.

Soldados do Exército da Somália celebram o resgate de grupo sequestrado pelo Al-Shabaab em maio de 2014 (Foto: Amison/Ramadan Mohamed)
Por que isso importa?

O Al-Shabbab chegou a controlar a capital Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro do país. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Dados apontam que os extremistas estiveram em mais de 400 episódios violentos no país entre julho e setembro do ano passado – o maior número desde 2018.

Um recente relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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