Em guerra civil, Sudão do Sul enfrenta ‘nova onda de repressão’

Afundada em crise, jovem nação luta para se recuperar dos traumas de uma guerra civil que já deixou quase 400 mil mortos

O Sudão do Sul atravessa uma “nova onda de repressão”, alertou a ONG de direitos humanos Anistia Internacional nesta sexta-feira (3). Muitos ativistas buscaram esconderijo após uma série de prisões efetuadas no país devastado por confrontos armados entre militares e civis, informou a rede Voice of America (VOA).

O mais novo país do mundo sofre de instabilidade permanente desde a sua independência em 2011, tendo como resistência uma coalizão de grupos da sociedade civil dizendo “basta” e pedindo ao governo que renuncie.

Segundo levantamento da Anistia Internacional, as autoridades prenderam nas últimas semanas oito ativistas, além de três jornalistas e dois funcionários de uma organização sem fins lucrativos pró-democracia.

Combatente sudanês armado com seu rifle G3. País também sofre com a violência entre etnias (Foto: Steve Evans/Wikimedia Commons)

“Estamos testemunhando uma nova onda de repressão emergindo no Sudão do Sul visando os direitos à liberdade de expressão, associação e reunião pacífica”, disse Deprose Muchena, diretor regional da Anistia Internacional para a África Oriental e Austral.

A recente repressão vertiginosa veio após uma declaração feita no final de agosto pela Coalizão do Povo para a Ação Civil (PCCA), que conclamou uma revolta pública pacífica.

O PCCA instou a população para que se juntasse ao seu protesto na segunda-feira (30) na capital Juba, mas a cidade calou-se de medo diante da classificação de “ilegal” dada pelas autoridades à manifestação e o envio de forças de segurança fortemente armadas para monitorar as ruas e repreender qualquer demonstração de oposição.

“Protestos pacíficos devem ser facilitados em vez de reprimidos ou evitados com prisões, assédio, implantação de segurança pesada ou quaisquer outras medidas punitivas”, disse Muchena em um comunicado.

As autoridades também fecharam uma estação de rádio e um centro de estudos em consequência dos protestos.

Cinco anos em guerra

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) disse nesta sexta-feira que condena o fechamento da estação de rádio, e pede “o fim imediato da perseguição aos repórteres sul-sudaneses”.

O Sudão do Sul está em 139º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2021 da RSF.

Desde que alcançou a independência do Sudão há dez anos, a jovem nação atravessa uma crise econômica e política crônica, ao passo em que luta para se recuperar dos traumas de uma guerra civil que já dura cinco anos e deixou um saldo de quase 400 mil mortos.

Embora um acordo de cessar-fogo e divisão de poder em 2018 entre o presidente Salva Kiir e seu vice, Riek Machar, ainda seja válido, houve pouco progresso no cumprimento dos termos do processo de paz.

O PCCA – que reúne ativistas, acadêmicos, advogados e ex-funcionários do governo – descreve o regime atual como “um sistema político falido que se tornou tão perigoso e sujeitou nosso povo a um sofrimento imenso”. Relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) apontou que autoridades de alto escalão desviaram US$ 36 milhões desde 2016.

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