Etiópia relata mais de 400 terroristas mortos durante ataque a base da União Africana

Membros do Al-Shabaab teriam usado homens-bomba e carros com explosivos para tentar invadir uma base na Somália

As forças armadas da Etiópia disseram na quarta-feira (20) que 462 membros do grupo terrorista Al-Shabaab foram mortos em uma fracassada emboscada contra uma base militar da Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS, na sigla em inglês). As informações são do site local Garowe.

Embora as informações tenham sido divulgadas na quarta, o confronto entre extremistas e militares ocorreu no final de semana. O Al-Shabaab, que é vinculado a Al-Qaeda, não confirmou os números, mas relatou ter matado 178 soldados da Etiópia, país que controla a base atacada e desmentiu a alegação.

As forças armadas etíopes alegam que 12 homens-bomba e três veículos carregados com explosivos foram usados pelo Al-Shabaab para tentar penetrar na base, mas as tropas conseguiram neutralizá-los. Um confronto se seguiu, com elevado número de baixas. Os números divulgados pelos dois lados, porém, carecem de verificação independente.

A ação dos terroristas ocorreu em Rabdhure, no sudoeste da Somália, perto da fronteira com a Etiópia. Além de importante parceiro do governo somali na luta contra o Al-Shabaab, Adis Abeba posiciona suas tropas na área para impedir que os extremistas ingressem no território etíope.

O ataque ocorre no início do processo de retirada das forças da União Africana (UA) do país. Conforme o cronograma, até o final de 2024 as forças armadas da Somália assumirão integralmente a missão de enfrentar o Al-Shabaab em seu território, segundo a rede Voice of America (VOA).

Soldado acompanha ex-militantes do Al-Shabaab após operação de desmantelamento do grupo terrorista em Garsale, Somália, setembro de 2012 (Foto: Divulgação/Amison)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio, a capital somali, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia e para outros países fronteiriços.

O grupo, que é vinculado à Al-Qaeda, concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Em agosto deste ano, ao anunciar a segunda etapa de sua ofensiva, o líder somali prometeu “eliminar o Al-Shabaab do país nos próximos cinco meses.” E acrescentou: “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas.”

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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