Facção da Al-Qaeda reivindica ataque que matou mais de cem soldados de Burkina Faso

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram armas e munições saqueadas e ao menos sete soldados supostamente capturados

O grupo extremista Jama’at Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), ligado à Al-Qaeda, assumiu a autoria de um ataque realizado há uma semana que deixou mais de cem soldados de Burkina Faso mortos nas proximidades da fronteira com o Níger. A informação foi divulgada pelo grupo de monitoramento SITE Intelligence e reproduzida pela agência Reuters.

De acordo com um comunicado publicado pelo próprio JNIM, ao qual o SITE teve acesso, “combatentes invadiram um posto militar na cidade [de Mansila], onde mataram 107 soldados e assumiram o controle do local.”

A facção também compartilhou vídeos que circularam nas redes sociais mostrando o suposto ataque. As imagens mostram os insurgentes disparando contra a base militar e exibe ainda muitas armas e munições que teriam sido capturadas pelos invasores. Ao menos sete soldados aparecem como reféns dos terroristas.

De acordo com a agência Al Jazeera, o ataque é um dos mais mortíferos já registrados no país africano. O pior ataque extremista em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte, com 160 mortos.

O que colabora para a fragilidade da segurança é a falta de preparo das Forças Armadas. Ulf Laessing, analista da Fundação Konrad Adenauer, diz que o governo aposta em civis despreparados para enfrentar os extremistas e que algo entre 50% e 60% do território nacional está hoje fora do controle do governo.

“Eles recrutaram 50 mil voluntários, muitos dos quais receberam apenas um curto período de treinamento. Então eles ficam meio vulneráveis ​​a perdas e isso não é muito eficiente, infelizmente. Quase todos os dias acontecem incidentes como esse”, disse ele.

Capitão Ibrahim Traoré, chefe da junta militar que governa Burkina Faso (Foto: twitter.com/capit_ibrahim)
País em ebulição

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos terroristas, insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Facções armadas lançam ataques ao Exército e a civis, desafiando também a presença de tropas estrangeiras.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país, com quase metade do território nacional fora do controle do governo central. Assim, Burkina Faso superou Mali e Níger como epicentro da violência jihadista na região.

Houve um período de relativa calmaria, até que a violência aumentou após a tomada do poder no país por uma junta militar em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que enfrentava protestos pela forma como combatia a sangrenta insurgência jihadista. Em setembro daquele ano, um segundo golpe levou a nova mudança no poder, com o capitão Ibrahim Traoré assumindo o governo central.

A instabilidade só faz crescer o problema da insurgência. Desde os golpes, um dos ataques mais violentos ocorreu em novembro de 2023, quando “dezenas de civis” foram mortos por insurgentes do Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), um grupo ligado à Al-Qaeda.

Na ocasião, os extremistas atacaram uma base militar, residências ocupadas por civis e três campos de deslocados internos na cidade de Djibo, no norte do país africano. Ao menos 40 civis foram mortos, com outros 42 feridos, de acordo com o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). Também foram incendiados 20 estabelecimentos comerciais.

Para especialistas, os extremistas decidiram aproveitar a divisão pública no país, situação que se tornou ainda mais delicada após a França acatar um pedido do governo central burquinense e retirar suas tropas da nação africana. Paris mantinha até 400 membros de suas forças especiais por lá, parte da Operação Barkhane de combate ao extremismo no Sahel.

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