Governo da Somália anuncia nova vitória e calcula já ter eliminado três mil terroristas

Forças de segurança, apoiadas por aliados, realizam uma operação contra o Al-Shabaab que avaliam como bem sucedida

As forças de segurança da Somália anunciaram o que alegam ser mais uma vitória contra o Al-Shabaab. Nos últimos dias, o governo diz que mais nove figuras de liderança do grupo foram mortas, totalizando mais de três mil extremistas neutralizados na primeira fase da grande operação realizada pelo governo desde agosto de 2022 para derrotar a organização. As informações são do site Garowe.

“Nove líderes do Al-Shabaab mortos e dez feridos em operações coordenadas com as Forças Armadas e parceiros internacionais nas regiões de Galgaduud e Middle Shabelle, na Somália. Veículos e equipamentos destruídos”, disse o governo somali em comunicado.

O presidente Hassan Sheikh Mohamud deu como encerrada a primeira fase da operação, considerada por ele um sucesso. Embora tenha iniciado a segunda etapa, teve que interrompê-la sob o argumento de que enfrenta problemas logísticos, incluindo a falta de armas.

Apesar do otimismo de Mohamud, a Somália tende a enfrentar ainda mais desafios logísticos nos próximos meses. Isso porque a Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS) já iniciou a retirada de suas forças do país, o que deve ser concluído até o final do ano.

Até agora, cerca de cinco mil soldado foram embora, com outros cinco mil previstos para sair nos próximos meses. Quando a retirada for concluída, as atribuições da ATMIS serão assumidas pelas Forças Armadas locais, que julgam ter condições de enfrentar os desafios de segurança sozinhas.

Soldados do exército da Somália em treinamento, imagem de 2012 (Foto: Amisom/Flickr)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para os vizinhos Etiópia e Quênia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram em 2022 na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas tropas do governo, por milícias armadas aliadas às Forças Armadas e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto de 2022, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você.”

Mais tarde, em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente os extremistas em 2024. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas”, disse ele.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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