As Forças Armadas de Ruanda e o grupo rebelde armado M23 (Movimento 23 de Março), que protagoniza uma violenta insurgência na RD Congo, realizaram bombardeios indiscriminados contra a população civil dentro do território congolês neste ano. A denúncia consta de um relatório divulgado na quinta-feira (26) pela ONG Human Rights Watch.
O governo ruandês é suspeito de apoiar os rebeldes em sua luta contra as forças congolesas, que foram igualmente acusadas de atrocidades cometidas no conflito. As tropas de Ruanda e o M23, juntos, teriam bombardeado “indiscriminadamente campos de deslocados e outras áreas densamente povoadas perto de Goma, leste da RD Congo”.
A ONG ainda afirma que as Forças Armadas congolesas, apoiadas por milícias aliadas, “aumentaram o risco enfrentado pelas pessoas deslocadas nos campos ao implantar artilharia nas proximidades”.
Segundo o relatório, todas as partes envolvidas no conflito são igualmente acusadas de matar e estuprar moradores dos campos de deslocados, de interferir na entrega de ajuda humanitária e de cometer outros abusos.
Para formular o relatório, pesquisadores da HRW visitaram campos de deslocados e entrevistaram 65 vítimas de abusos, testemunhas e autoridades do campo. Entre os entrevistados estão nove sobreviventes de violência sexual e cinco pessoas com informações confiáveis sobre violência sexual. Também foram ouvidas 31 fontes humanitárias, diplomáticas, da ONU (Organização das Nações Unidas) e militares.
A entidade diz ainda que revisou e analisou fotos e vídeos que foram compartilhados digitalmente ou por pesquisadores e mostram locais onde ocorreram ataques. Imagens de satélite foram usadas para determinar a distância das posições de artilharia e alvos relatados dos campos de deslocamento.
“À medida que o conflito entre as forças ruandesas e congolesas e suas milícias aliadas se aproximava de Goma, os moradores da área e mais de meio milhão de pessoas deslocadas têm tido cada vez mais risco de serem pegos no meio da luta e terem negada ajuda humanitária”, disse Clémentine de Montjoye, pesquisadora sênior da HRW para a África.
Por que isso importa?
O M23 era inicialmente uma milícia formada por tutsis da RD Congo e então apoiada pelos governos de Ruanda e Uganda. Em 2009, a milícia assinou um acordo de paz com o governo congolês e acabou incorporada ao exército nacional, mas se rebelou novamente em 2021. O Conselho de Segurança da ONU chegou a afirmar que o grupo é uma “séria ameaça à paz, segurança e estabilidade na região”.
Os rebeldes do M23 são suspeitos inclusive de envolvimento na queda de um helicóptero que matou oito integrantes da Monusco, a missão de paz da ONU na RD Congo, em março de 2022. A aeronave transportava seis boinas-azuis do Paquistão, um da Rússia e outro da Sérvia e desapareceu enquanto fazia uma missão de reconhecimento perto da fronteira com Uganda e Ruanda.