Um juiz no Quênia ordenou nesta quarta-feira (17) que o autoproclamado pastor Paul Nthenge Mackenzie, líder da chamada “Seita do Jejum”, e dezenas de outros indivíduos fossem submetidos a exames de saúde mental antes de enfrentarem acusações de assassinato, terrorismo e tortura relacionadas às mortes de mais de 400 pessoas encontradas em covas coletivas. Ele é acusado de incitar seus seguidores a morrerem de fome para “encontrar Jesus”. As informações são do jornal The Guardian.
As acusações contra Mackenzie incluem homicídio, homicídio culposo, terrorismo e “submeter crianças a tortura”, segundo os promotores, que irão solicitar o formal indiciamento do líder da seita evangélica e outras 94 pessoas.
Entre as vítimas do episódio, chamado de “Massacre na Floresta de Shakahola”, estão 191 crianças cujos corpos foram exumados em abril de 2023 na remota mata localizada no sudeste do Quênia.
A prisão preventiva de Mackenzie foi prorrogada várias vezes enquanto as investigações se desenrolam desde a sua detenção em abril, quando as vítimas foram encontradas na floresta de Shakahola, perto da costa do Oceano Índico.
Após uma “análise cuidadosa das evidências”, o Ministério Público queniano, em comunicado assinado pelo procurador-geral Renson Mulele Ingonga, disse estar “satisfeito” de que há provas suficientes para processar 95 suspeitos. A decisão veio uma semana depois de um tribunal dar às autoridades 14 dias para processar Mackenzie ou libertá-lo.
Autópsias indicam que a maioria das vítimas morreu de fome, enquanto outras foram estranguladas, espancadas ou sufocadas. As investigações revelaram que algumas vítimas tinham órgãos ausentes, levantando suspeitas de que poderia existir um esquema de tráfico de órgãos humanos dentro do culto, segundo a agência Anadolu.
Pregação extrema
Alguns seguidores de Mackenzie foram resgatados da floresta em situação de extrema desnutrição. Pessoas com conhecimento sobre as atividades do culto informaram à agência Reuters no ano passado que Mackenzie planejava a inanição em massa em três fases: primeiro as crianças, depois as mulheres e jovens, e, por fim, os homens restantes.
Outros ex-seguidores afirmam que ele os proibia de enviar seus filhos à escola e de ir ao hospital quando estavam doentes e definia tais instituições como “satânicas”.
Mackenzie é um ex-taxista que se tornou pastor em 2003 e fundou a Igreja Internacional das Boas Novas no Quênia. Ele enfrentou duas prisões desde 2017 devido à sua pregação extrema.
O Quênia enfrenta desafios no combate a líderes autoproclamados, com antecedentes de acusações contra Mackenzie em 2017.
Como uma nação predominantemente cristã, o país africano enfrenta desafios na regulamentação de igrejas e cultos que se envolvem em atividades criminosas. O país possui mais de quatro mil igrejas registradas, abrigando uma população de 53 milhões de habitantes, de acordo com dados do governo.