Meta é processada por filho de tigré morto após ter dados expostos no Facebook

Autor da ação acusa plataforma de desempenhar papel na violência política na África e exige mais de US$ 2 bilhões

Um fundo de US$ 2 bilhões para as vítimas de discurso de ódio no Facebook, um pedido oficial de desculpas da Meta, empresa-mãe da rede social, e uma mudança no funcionamento do algoritmo. Essas são as reivindicações de Abrham Meareg, filho de um acadêmico etíope morto após ser atacado em postagens. As informações são da rede BBC.

O pai de Abrham, o professor Meareg Amare Abrha, foi morto durante o conflito civil em curso entre o governo da Etiópia e rebeldes da região etíope de Tigré. O crime foi resultado do incitamento que se espalhou no Facebook. Ele, que era membro do grupo étnico marginalizado, foi seguido da universidade que trabalhava até sua casa em 3 de novembro de 2021 por dois homens que atiraram à queima-roupa. 

Antes do ataque, postagens que deveriam ter sido removidas difamavam e revelavam informações de identificação sobre ele, alega o filho.

Abrham e seu pai, o professor Meareg Amare Abrha, morto em novembro de 2021 (Foto: Abrham Meareg/Reprodução Facebook)

A ação coletiva, que acusa a Meta de monetizar o potencial viral de ódio e violência na Etiópia foi movida em Nairóbi, capital do Quênia, onde o Facebook inaugurou em 2019 um importante centro de moderação de conteúdo para a África Oriental e Austral. 

“Meu pai não teve nenhuma chance de convencer as pessoas de que era inocente”, disse Abrham em uma entrevista de sua casa, perto de Minneapolis, nos EUA, onde vive agora. “Ele não teve a escolha de esclarecer o discurso de ódio e a desinformação. Eles apenas atiraram nele e o mataram de forma brutal”.

A casa da família acabou sendo ocupada por militantes, e a mãe de Abrham fugiu para Adis Abeba, capital da Etiópia. As postagens que incitaram a morte do professor Abrha estão no ar até hoje, segundo o filho.

Apesar disso, a Meta declarou que fez investimentos significativos em moderação e tecnologia para a remoção de discurso de ódio, como o hub no Quênia. Um representante disse que tal prática e a incitação à violência violam as regras da plataforma.

“Nosso trabalho de segurança e integridade na Etiópia é guiado pelo feedback de organizações locais da sociedade civil e instituições internacionais”, disse o representante.

A empresa também declarou que tem aperfeiçoado continuamente os métodos de identificação do discurso de ódio na plataforma.

“Empregamos funcionários com conhecimento e experiência local e continuamos a desenvolver nossas capacidades para detectar conteúdo infrator nos idiomas mais falados no país, incluindo amárico, oromo, somali e tigré”, afirmou a empresa.

O mesmo tipo de dano tem ocorrido em outras partes do mundo. Em setembro, a Anistia Internacional (AI) afirmou que a Meta estava ciente de que seus algoritmos estavam amplificando o discurso de ódio anti-Rohingya em Mianmar, mas não fez nada para impedi-lo.

A “busca imprudente pelo lucro” e a “contribuição às atrocidades perpetradas pelos militares de Mianmar” pela empresa-mãe do FacebookMeta, deveria fazer a big tech pagar indenizações às comunidades rohingyas que foram expulsas do oeste do país em 2017, declarou a ONG à época.

Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado, às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando novos confrontos eclodiram. Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar.

Em novembro, o governo da Etiópia e a TPLF assinaram um novo acordo de cessar-fogo. Porém, as forças de Amhara e da Eritreia, tradicional aliada de Addis Abeba, não fizeram parte do pacto e mantiveram as hostilidades contra os tigrés.

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