A cidade de Pretória, na África do Sul, é sede de negociações de paz entre o governo etíope e rebeldes da região de Tigré, buscando dar fim à violência no território no extremo norte da Etiópia, imersa em conflitos há quase dois anos. É o maior esforço até aqui com vistas a cessar combates que provavelmente já tiraram a vida de centenas de milhares de pessoas. As informações são da agência Associated Press.
Segundo o porta-voz do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, Vincent Magwenya, as negociações articuladas pela União Africana (UA) tiveram início nesta terça-feira (25) e seguirão até domingo (30).
“Tais conversas estão alinhadas com os objetivos da política externa da África do Sul de um continente seguro e livre de conflitos”, disse Magwenya.
A região de Tigré, onde vivem mais de 5 milhões de pessoas, ficou mais uma vez isolada do mundo após o início de novos combates no final de agosto, depois de meses de uma trégua que permitiu que os combatentes – incluindo dois dos principais militares do continente africano – se reagrupassem.
O conflito é marcado por atrocidades. Segundo investigadores de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), todos os combatentes cometeram abusos. O órgão de manutenção da paz ainda acusa o governo etíope de usar a fome da população como “arma de guerra”. A luta armada também tem impactado na taxa de mortalidade infantil, que aumentou quatro vezes em relação ao período pré-guerra.
Apesar da divulgação da estatística, o preço deste conflito, travado em grande parte longe de observadores independentes e com jornalistas impedidos de ter acesso à região, é desconhecido.
Na segunda-feira (24), o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a situação na Etiópia está a ficar “fora de controle”.
Por que isso importa?
A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.
Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle.
Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.
Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.
A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando nos confrontos eclodiram. Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar.