Insurgentes do Estado Islâmico (EI) em Moçambique sequestraram, nos últimos três anos, mais de 600 mulheres e crianças, as quais sofrem abusos sexuais e invariavelmente são submetidas a casamento forçado. Há ainda vítimas que são vendidas a combatentes estrangeiros, segundo relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) reproduzido pelo jornal britânico Daily Mail.
Os raptos, ocorridos durante ataques a cidades e vilarejos na província de Cabo Delgado, são coordenados pelo grupo islâmico Ahulu Sunnah Wa-Jama, também conhecido como Al-Shabaab, atuante desde 2017 e sem qualquer relação com a organização de mesmo nome filiada à Al-Qaeda da Somália.
As vítimas, ma sua maioria, são transformadas em escravas sexuais pelos jihadistas. Outras são inseridas em um sistema paralelo de escravidão, sendo negociadas com militantes estrangeiros por valores entre US$ 600 (cerca de R$ 3,3 mil) e US$ 1,8 mil (pouco mais de R$ 10 mil).
De acordo com a HRW, algumas mulheres foram libertadas por forças moçambicanas e estrangeiras que atuam na região com o intuito de violência extremista que eclodiu há quatro anos.
Uma mulher de 33 anos relatou que os militantes agrediram sua tia, uma autoridade local, e, com uma arma apontada, a obrigaram a identificar todas as casas com meninas entre 12 e 17 anos em sua cidade. Ela contou 203 meninas, mas não soube precisar quantas foram sequestradas. Tais práticas ocorrem principalmente quando os combatentes retornam de operações de guerrilha.
“Os líderes do Al Shabab devem tomar todas as medidas necessárias para prevenir o estupro e o abuso sexual por parte de seus combatentes, acabar com o casamento infantil, o casamento forçado e a venda e escravidão de mulheres e meninas em suas bases e áreas de operação”, condenou Mausi Segun, diretor da HRW para a África.
Por que isso importa?
Os conflitos na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, deixaram mais de 750 mil pessoas na dependência de ajuda humanitária. A região está sob controle do EI, e as forças nacionais de segurança aguardam apoio militar estrangeiro para tentar derrotar definitivamente a milícia jihadista.
A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que cerca de US$ 121 milhões sejam necessários para apoiar 750 mil pessoas na região de Cabo Delgado, até o final deste ano. O PMA (Programa Mundial de Alimentos) alega que, sem o dinheiro, “uma das crises de deslocamento de crescimento mais rápido no norte de Moçambique corre o risco de se tornar uma emergência de fome”.
“O conflito destruiu os empregos, as vidas e as esperanças dos moçambicanos para o futuro. Os insurgentes destruíram famílias, queimando suas casas, traumatizando crianças e matando pessoas”, afirma o chefe do PMA, David Beasley.