Rebeldes de Tigré executaram mais de 40 pessoas na Etiópia, segundo ONG

Violência levou a um deslocamento em grande escala em Tigré, com 3,7 milhões de pessoas necessitando de assistência humanitária

Combatentes das forças rebeldes de Tigré, no norte da Etiópia, teriam executado sumariamente mais de 40 civis entre os dias 31 de agosto e 9 de setembro deste ano, em duas cidades da região de Amhara. A denúncia foi feita pela ONG Human Rights Watch (HRW).

“As forças de Tigré mostraram um desrespeito brutal pela vida humana e pelas leis da guerra ao executar pessoas sob sua custódia”, disse Lama Fakih, diretor de crise e conflito da HRW. “Essas mortes e outras atrocidades cometidas por todos os lados do conflito ressaltam a necessidade de um inquérito internacional independente sobre alegados crimes de guerra nas regiões de Tigré e Amhara, na Etiópia”.

No dia 31 de agosto, os rebeldes invadiram a vila de Chenna e entraram em conflito com as forças armadas da Etiópia e com milícias armadas de Amhara. Segundo pessoas que moram na cidade, ao longo de cinco dias os combatentes de Tigré executaram sumariamente 26 civis em 15 incidentes separados, antes de se retirarem em 4 de setembro.

Outro episódio registrado pela ONG ocorreu na cidade de Kobo, em 9 de setembro, quando as forças de Tigré teriam executado sumariamente 23 pessoas em quatro incidentes. As mortes foram uma aparente retaliação pelos ataques de fazendeiros armados contra os rebeldes.

A HRW e outras organizações de direitos humanos têm denunciado crimes de guerra e possíveis crimes contra a humanidade na região de Tigré cometidos por todas as partes envolvidas no conflito armado que se espalhou pelo país. A violência levou a um deslocamento em grande escala, com 3,7 milhões de pessoas na região necessitando de assistência humanitária.

Rebeldes de Tigré em novembro de 2020: grupo sofre acusações frequentes de abusos cometidos contra civis (Foto: TV Tigray)

Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado, às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes e a conquista das regiões vizinhas de Afar e Amhara, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que no ano passado se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou superar o exército nos confrontos armados e atualmente ruma para a capital. A chegada a Adis Abeba pode representar a vitória derradeira dos rebeldes, o que levou o governo a convocar a população para pegar em armas em defesa da soberania nacional.

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