Tensão no Sudão cresce durante crise do coronavírus

Com circulação impedida, ONU atrasou a instalação de unidades policiais na fronteira com o Sudão do Sul

As restrições impostas pelo governo do Sudão para conter o novo coronavírus têm atrasado a instalação de unidades policiais da ONU perto da fronteira do país com o Sudão do Sul. Por consequência, a segurança na região se mantém instável, afirmou o subsecretário-geral de Operações de Manutenção de Paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, nesta terça (28).

O ponto focal da disputa está em Abyei, região em litígio reclamada pelos dois países – sem consenso entre as partes desde 2004, o território é considerado zona especial de “administração dupla”. Ali, houve troca de tiros com a Força Interina de Segurança das Nações Unidas.

Apesar de haver melhora na relação entre os dois países, separados em 2011, é pouco provável que haja progresso sobre a disputa do território. Isso porque que as organizações que tratam do assunto têm como prioridade, no momento, minimizar os impactos da pandemia.

Patrulha da ONU em Abyei, no Sudão (Foto: Stuart Price/UN Photo)

No país, a OMS (Organização Mundial da Saúde) já registrou 275 casos confirmados da doença e 22 mortes. Já no Sudão do Sul, são seis casos confirmados e nenhuma morte.

Darfur

Na última sexta (24), Lacroix já havia afirmado durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU que a força interina das Nações Unidas na região está “totalmente mobilizada” para assistir a população sudanesa.

O subsecretário falou ainda sobre os conflitos em Darfur, no oeste do Sudão. No final do ano passado, os conflitos na região deixaram 65 pessoas mortas. Mais de 46 mil pessoas tiveram que se realocar em outras partes do país e mais 11 mil pessoas fugiram para o Chade.

Por causa da pandemia, a saída da Missão das Nações Unidas e da União Africana em Darfur do território, prevista para acontecer até 31 de outubro, deve ser revista pelas Nações Unidas.

Em todo o país, até o fim de 2019, cerca de 9,3 milhões de pessoas necessitavam de ajuda humanitária. Com a crise, a ONU acredita que o número pode aumentar.

Onde fica o Sudão (Foto: Reprodução/Google Maps)

“Sofrimento incalculável”

A alta-comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou nesta terça (28) que o governo e a população do Sudão podem passar por um “sofrimento incalculável” em meio à pandemia do coronavírus.

A nova crise chega ao país apenas um ano após Omar al-Bashir, que governou o país por 30 anos, ser retirado do poder. Bachelet aponta que a promessa de desenvolvimento, democracia, justiça e paz está ameaçada diante da falta de recursos.

O cenário pode se agravar com as sanções unilaterais impostas ao país, a recusa em aliviar a dívida sudanesa, por parte de instituições internacionais, e falta de apoio internacional. “O ponto crítico pode ser a Covid-19”, alertou Bachelet, ex-presidente do Chile.

Fontes médicas ouvidas pela ONU alertam ainda para a falta de equipamentos médicos e de proteção. O sistema de saúde não estaria equipado para lidar com a pandemia.

Conflitos já deslocaram cerca de 2 milhões de pessoas dentro do Sudão, que ainda abriga cerca de 1,1 milhão de refugiados.

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