Turistas em jet skis foram mortos a tiros pelas forças de segurança da Argélia

Turistas de dupla nacionalidade franco-marroquina estavam de férias na costa marroquina e, desavisadamente, adentraram as águas territoriais da Argélia

Na última terça-feira (29), dois turistas foram mortos por tiros da guarda costeira da Argélia, quando acidentalmente entraram em suas águas territoriais de jet ski. Agora, as autoridades argelinas afirmam que um grupo de quatro pessoas a bordo de motos náuticas, todas provenientes das águas de Marrocos, foi alertado antes de ser alvejado. As informações são da rede BBC.

Os turistas, que possuíam dupla nacionalidade francesa e marroquina, estavam de férias na costa marroquina e partiram de um resort costeiro em Saidia, na fronteira com a Argélia. O Ministério da Defesa argelino, em seu primeiro comunicado sobre o incidente no domingo (3), afirmou que eles desobedeceram repetidamente à ordem de parar.

Na nota, o órgão governamental argelino afirmou que no incidente da semana passada, dois turistas foram mortos após a guarda costeira “dar um aviso sonoro e ordenar repetidamente que parassem”, o qual “os suspeitos recusaram-se a obedecer e fugiram.”

Vítimas passavam as férias na cidade costeira de Saidia, próxima à fronteira com a Argélia (Foto: Simo Khelloqi/Flickr)

No entanto, um sobrevivente contradisse essa versão, afirmando que não recebeu um aviso. Mohamed Kissim declarou à agência Reuters: “Só ouvi diretamente os tiros que mataram meu irmão Bilal.”

De acordo com informações de Marrocos, Bilal Kissi, um turista franco-marroquino de 29 anos, e seu primo marroquino Abdelali Mechouar, de 40 anos, foram mortos. Smail Snabe, um terceiro homem, foi ferido e detido na Argélia, conforme relatos da mídia marroquina na sexta-feira (1º). O irmão de Kissi, Mohamed, acrescentou em seu relato que eles se perderam e “ficaram sem combustível” após saírem do resort marroquino.

Snabe foi condenado a uma pena de 18 meses de prisão, conforme informou o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) de Marrocos. O CNDH está pressionando pela sua libertação e entrega às autoridades marroquinas.

Kissi tentou retornar a Saidia nadando e acabou resgatado pela Marinha marroquina. Os seus familiares estão buscando levar o caso aos tribunais internacionais.

O Ministério da Defesa da Argélia reiterou em seu comunicado que tiros de advertência foram dados antes das vítimas serem alvejadas, citando a “intensa atividade de gangues de contrabando de drogas e crime organizado” em suas fronteiras.

As autoridades marroquinas recusaram comentar o incidente, considerando-o uma questão judicial. Entretanto, o Ministério Público iniciou uma investigação sobre o ocorrido.

Já o Ministério das Relações Exteriores da França informou na sexta-feira (1º) que estava ciente do falecimento de um cidadão francês e da detenção de outro na Argélia. O órgão governamental afirmou que estava em contato com as famílias dos cidadãos e com as autoridades de ambos os países.

Por que isso importa?

A tensão entre Marrocos e a Argélia tem raízes em suas disputas pelo Sahara Ocidental, uma questão de longa data. A fronteira entre os dois países foi fechada em 1994, e as relações diplomáticas foram rompidas há dois anos, com Argel acusando Marrocos de ações hostis, uma acusação que Rabat nega.

Além disso, ambos os países têm diferenças políticas e estratégicas que também contribuem para a tensão, incluindo divergências sobre assuntos regionais e apoio a diferentes grupos em conflitos no Norte da África.

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