União Africana pagou quase US$ 200 milhões em indenizações na luta contra o Al-Shabaab

As forças de paz do bloco de países já perderam ao menos 3,5 mil soldados em seu apoio o governo somali na luta contra os extremistas

Na semana passada, a União Africana (UA) revelou ter perdido ao menos 3,5 mil soldados de paz na luta contra o Al-Shabaab na Somália. Agora, o bloco de países africanos, que desde 2007 presta apoio ao governo somali no combate aos extremistas, diz que já pagou por volta de US$ 190 milhões em indenizações aos familiares dos mortos e feridos. As informações são do site Garowe.

Relatório divulgado pela UA aponta que a maior parte da verba, cerca de US$ 175 milhões, foi usada para indenizar as famílias dos militares mortos. Mais US$ 15 milhões foram pagos aos parentes dos cerca de 1,5 mil soldados feridos.

Pelas regras da Missão de Transição da União Africana (ATMIS, na sigla em inglês), os familiares de cada soldado morto na luta contra o Al-Shabaab recebe US$ 50 mil, enquanto o pagamento por soldado ferido é de US$ 10 mil. O dinheiro geralmente é proveniente de parcerias com nações e entidades aliadas, como Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia (UE) e ONU (Organização das Nações Unidas).

As nações africanas com mais soldados a serviço da UA são Quênia, Uganda, Etiópia, Djibuti e Burundi. Porém, devido ao sigilo com que a questão é tratada, não existem estatísticas públicas sobre quais países perderam mais militares na Somália.

Apesar das altas cifras envolvidas no pagamento das indenizações, há relatos de familiares de soldados mortos ou feridos que ainda não receberam o dinheiro, que geralmente é feito diretamente pelo governo do país de origem da vítima.

A ATMIS se prepara para deixar a Somália até o final de 2024. O bloco e Mogadíscio entendem que, após anos de parceria, as forças armadas somalis estão prontas para assumir sozinhas a responsabilidade pela segurança do país.

Soldados da União Africana na Somália, agosto de 2012 (Foto: Divulgação/União Africana/Stuart Price)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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