Na quarta-feira (18), o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) foi palco de uma acirrada troca de acusações e preocupações envolvendo a crescente cooperação entre Rússia e Coreia do Norte, com a ameaça de uma escalada nas tensões nucleares na região. As informações são da Reuters.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, expressou preocupação com os últimos acontecimentos, sugerindo que Moscou poderia estar se aproximando de aceitar, de forma indireta, o programa nuclear de Pyongyang. Isso seria uma mudança significativa, já que a Rússia tem se comprometido, por décadas, com a desnuclearização da Península Coreana. Ela alertou que Moscou poderia começar a evitar críticas ao desenvolvimento de armas nucleares pela Coreia do Norte e até bloquear novas resoluções ou sanções da ONU contra o país.

A preocupação surge após uma declaração do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em setembro, em que ele afirmou que Moscou via o objetivo de “desnuclearizar” a Coreia do Norte como um capítulo encerrado. Segundo Lavrov, a Rússia compreende a lógica de Pyongyang ao confiar nas armas nucleares para sua defesa. Isso marca uma mudança significativa na política russa, que historicamente foi contrária à proliferação nuclear na região.
A Coreia do Sul e o Reino Unido reagiram com veemência às declarações de Lavrov, acusando-o de enfraquecer o regime global de não proliferação nuclear. O vice-embaixador britânico na ONU, James Kariuki, chamou as palavras de Lavrov de um “afastamento imprudente” do princípio de desarmamento nuclear verificável e irreversível. A comunidade internacional, especialmente os aliados dos EUA, vê com preocupação a possível normalização do programa nuclear de Pyongyang, o que poderia ter sérias repercussões na segurança regional e global.
Por outro lado, o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, defendeu a cooperação crescente com a Coreia do Norte como um direito soberano da Rússia. Ele afirmou que a colaboração não viola o direito internacional e não representa uma ameaça para terceiros países, mantendo a postura de que essa relação está em conformidade com as leis internacionais.
A aproximação entre Moscou e Pyongyang se intensificou após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Desde então, os dois países estreitaram laços diplomáticos e militares, com visitas mútuas entre os líderes Vladimir Putin e Kim Jong-un. Um aspecto mais controverso dessa cooperação é o uso de tropas norte-coreanas em combates contra as forças ucranianas em um enclave da região russa de Kursk, o que gerou um novo ponto de tensão no cenário geopolítico.
O embaixador da Coreia do Norte na ONU, Kim Song, se posicionou a favor dessa aliança, defendendo-a como uma “contribuição positiva para a paz e a segurança internacionais”. Ele afirmou que, para Pyongyang, a possibilidade de uma guerra nuclear no nordeste da Ásia deixou de ser uma mera possibilidade e se transformou em uma questão de tempo, refletindo a crescente militarização da região e o aumento das tensões com os Estados Unidos e seus aliados.
“Incertezas no horizonte”
O embaixador da Coreia do Sul na ONU, Joonkook Hwang, fez um alerta ao Conselho de Segurança sobre a possibilidade de “incertezas no horizonte” no cenário internacional antes da posse de Donald Trump para um segundo mandato, no próximo mês.
Segundo Hwang, a Coreia do Norte tem o histórico de intensificar suas provocações durante as transições de governo nos Estados Unidos, com o objetivo de chamar atenção e pressionar por negociações diretas. O diplomata mencionou que isso pode incluir novos testes de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), satélites militares ou até um novo teste nuclear, colocando mais pressão sobre as sanções que o país enfrenta desde 2006.