Argentina usa embaixada na Venezuela para abrigar opositores perseguidos por Maduro

Buenos Aires não disse quem foi acolhido, mas especula-se que sejam venezuelanos contra quem Caracas emitiu mandados de prisão

Cidadãos venezuelanos que fazem oposição ao presidente Nicolás Maduro no país receberam abrigo na embaixada da Argentina em Caracas. A informação foi confirmada pelo governo do presidente Javier Milei nesta quarta-feira (27), segundo relato da agência Al Jazeera.

“Abrigamos líderes da oposição política em nossa embaixada em Caracas”, disse o porta-voz presidencial Manuel Adorni em entrevista coletiva em Buenos Aires. “Pedimos uma solução em breve.”

Milei tem se manifestado publicamente contras as ações de Maduro com vistas à eleição presidencial de 28 de julho. Na terça-feira (26), o escritório do presidente argentino divulgou um comunicado no qual instou a Venezuela a “convocar eleições transparentes, livres, democráticas e competitivas.”

Cerimônia de posse de Javier Milei no dia 10 de dezembro em Buenos Aires (Foto: WikiCommons)

O embate ocorre conforme Maduro fecha o cerco contra os oposicionistas, que o acusam de interferir no processo eleitoral para assegurar mais um mandato no comando do país.

Na segunda-feira (25), a coligação de oposição Plataforma Unitária disse que Corina Yoris, apontada para concorrer no pleito, havia sido impedida de registrar sua candidatura, prejudicada por uma barreira burocrática imposta pelo governo.

Maduro, por sua vez, foi confirmado como candidato, e os impedimentos aos candidatos de oposição legítimos tendem a garantir-lhe a vitória e o poder até no mínimo 2031. Tal cenário seria improvável com a candidatura válida da Plataforma Unitária, que tinha ampla vantagem nas pesquisas de opinião.

Dois membros da oposição também foram presos na semana passada, com ao menos mais seis mandados de prisão emitidos. Buenos Aires não citou os nomes das pessoas que receberam abrigo na embaixada, mas acredita-se que entre elas estejam os alvos dos mandados de prisão.

Brasil x Maduro

A situação gerou até um raro posicionamento do governo brasileiro, o que incomodou o líder venezuelano. Na terça-feira (26), o Itamaraty afirmou que “o governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país”, citando o veto às candidatas da coligação Plataforma Única.

Antes de Yoris, Maria Corina Machado também havia sido impedida de concorrer. “O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial”, diz o texto do governo brasileiro. Em resposta, o presidente venezuelano disse que o comunicado parece ter sido “ditado pelos EUA.”

O Ministério das Relações Exteriores afirmou ainda que o Brasil “está pronto para, em conjunto com outros membros da comunidade internacional, cooperar para que o pleito anunciado para 28 de julho constitua um passo firme para que a vida política se normalize e a democracia se fortaleça na Venezuela.”

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