Blinken diz que há indícios confiáveis de crimes de guerra do exército russo

Há relatos de ataques a civis, a orfanato, jardim de infância e uso de bombas de fragmentação na ofensiva contra a Ucrânia

Há evidências de abusos do exército russo na Ucrânia, segundo relato do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, feito no domingo (6), em entrevista à rede norte-americana CNN. De acordo com a autoridade, Washington dispõe de relatos confiáveis ​​que atestam crimes de guerra em andamento no país do leste da Europa. As informações são da revista Newsweek.

À medida em que os russos avançaram com sua invasão em larga escala há 11 dias, começaram a ser relatados diversos ataques a civis, o que motivou a comunidade internacional a disparar acusações de crimes de guerra a Moscou. O governo de Joe Biden vinha agindo com cautela sobre o assunto, procurando não fazer acusações.

No entanto, tal postura parece ter mudado no fim de semana, quando Blinken falou abertamente que o governo dos EUA tem manifestações “muito críveis” de ofensivas contra civis ucranianos, o que, nas palavras dele, “constituiriam crimes de guerra”. O secretário ainda mencionou o uso de “certas armas”, fazendo menção a bombas de fragmentação.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken (Foto: Wikimedia Commons)

Tal armamento foi denunciado por mais de 100 países. Sua utilização pode ser considerada um desrespeito à Convenção de Genebra, que determina o padrão de tratamento humanitário durante um conflito. Ataques indiscriminados que ferem ou tiram a vida de civis também configuram crime de guerra.

Passadas quase duas semana desde o início da ofensiva, diversos incidentes foram relatados, incluindo um ataque a um jardim de infância e orfanato. Como exemplos de outros crimes de guerra, segundo os EUA, há indício de uso de bomba a vácuo, um ataque de bomba de fragmentação perto de um hospital e outras investidas militares coordenadas nos arredores de áreas civis.

“O que estamos fazendo agora é documentando tudo isso, juntando tudo. À medida que as pessoas e as organizações e instituições apropriadas investigam se crimes de guerra aconteceram ou estão sendo cometidos, podemos apoiar o que quer que estejam fazendo”, disse Blinken.

Na sexta-feira (4), o Departamento de Estado dos EUA disse que estava “avaliando” se o ataque da Rússia à usina de Zaporizhzhia, a maior planta nuclear da Europa, teria sido ou não um crime de guerra. A embaixada norte-americana em Kiev disse que a ofensiva foi, de fato, uma violação do direito internacional, levando o Departamento de Estado a enviar um memorando orientando as embaixadas a não retuitarem a alegação.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, observou a necessidade de uma “investigação forte e clara” a respeito dos crimes terem sido cometidos ou não. “Precisamos deixar o caso bem claro e sem dúvidas”, ponderou.

De acordo com a agência Reuters, na quinta-feira (3), investigadores do Tribunal Penal Internacional (TPI) começaram a procurar evidências de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e atos de genocídio na ex-república soviética.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esportecinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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