Cultura e esporte também impõem sanções e vetam russos em inúmeros eventos

Festival de Cannes, Eurovision, Copa do Mundo, Liga dos Campeões... Grandes eventos não terão mais a participação de russos

Enquanto os governos ocidentais impõem sanções financeiras com o objetivo de sufocar a economia russa, os setores da cultura e do esporte também agem para tornar a Rússia um pária no cenário mundial. Desde a invasão da Ucrânia, artistas e atletas russos passaram a ser vetados em inúmeros eventos culturais e esportivos globais.

Um dos grandes eventos que não aceitará participantes russos é o Festival de Cannes, na França. “A menos que a guerra termine em condições que satisfaçam o povo ucraniano, foi decidido que não receberemos delegações oficiais russas nem aceitaremos a presença de qualquer pessoa ligada ao governo russo”, disseram os organizadores em comunicado divulgado na terça-feira (1º).

Cineastas russos podem vir a ser autorizados a comparecer ao evento individualmente, mas não foi decidido se eles terão autorização para competir no Festival com suas produções, segundo a rede Voice of America (VOA).

Artistas russos também estão proibidos de participar do Eurovision, popular concurso europeu de música. Emissoras de televisão da Islândia, da Noruega, da Finlândia e da Holanda que transmitem o evento solicitaram que a Rússia fosse impedida de participar da competição.

Já o maestro Valery Gergiev, regente da Orquestra Filarmônia de Munique, na Alemanha, foi dispensado do cargo após se recusar a fazer uma manifestação pública contrária à guerra. Aliado do presidente Putin, ele teve muitos de seus concertos cancelados mundo afora.

Valery Gergiev, maestro russo e aliado de Putin (Foto: Wikimedia Commons)

Punições no esporte

O esporte também impôs sanções a atletas e equipes da Rússia em função do ataque à Ucrânia. A Uefa, entidade que gerencia o futebol na Europa, retirou de São Petesburgo o direito de sediar a final da Liga dos Campeões, o principal torneio de clubes do mundo. Os clubes russos também foram proibidos de disputar torneios europeus, o que levou à eliminação do Spartak Moscou na Liga Conferência Europa, terceiro torneio de clubes na hierarquia continental.

Por sua vez, a Fifa, que gerencia o futebol mundial, tirou a seleção da Rússia da repescagem europeia, acabando, assim, com as chances de a equipe jogar a Copa do Mundo deste ano, que acontecerá no Catar. A Rússia jogaria no dia 24 de março contra a Polônia, que se recusou a entrar em campo. Suécia e República Tcheca, potenciais rivais russos na sequência da disputa, fizeram o mesmo.

Já a Federação Mundial de Voleibol (FIVB) tirou da Rússia o direito de sediar o campeonato mundial masculino deste ano. Também anunciou que as seleções e atletas da Rússia e de Belarus estão proibidos de disputar os torneios da entidade até segunda ordem, de acordo com a rede CNN.

Foi igualmente cancelado o Grande Prêmio da Rússia de Fórmula 1, que estava agendado para o dia 25 de setembro deste ano. A equipe Haas, que tem o único piloto russo da F1, Nikita Mazepin, já informou que tiraria a bandeira do país de seu carro.

No tênis, as federações russa e belarussa também foram suspensas, tirando as equipes das Copas Davis e Billie Jean King, ambos torneios por equipes. Os tenistas dos dois países, no entanto, estão autorizados a competir individualmente, embora tenham surgido protestos individuais de atletas que se recusam a enfrentar rivais da Rússia.

O Conselho Mundial de Atletismo foi ainda mais severo e proibiu inclusive a participação individual de atletas russos e belarussos nas competições organizadas pela entidade.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

Tags: