CIA prevê derrota da Ucrânia até o fim do ano se os EUA não retomarem o fornecimento de armas

O alerta de um oficial de alto escalão do governo vem em um momento de crescente preocupação em Kiev sobre a possível ofensiva de verão da Rússia

William Burns, diretor da CIA, a inteligência dos EUA, fez um alerta forte aos parlamentares no Capitólio na quinta-feira (18): sem uma aprovação imediata de ajuda à Ucrânia, Kiev corre o risco de perder a guerra para Moscou até o final do ano. Em um evento no Centro Presidencial George W. Bush, Burns pressionou os políticos a aprovarem o aporte financeiro destinado aos esforços de guerra ucranianos. As informações são da rede CNN.

Os comentários de Burns representam uma das advertências mais duras até agora do governo Biden sobre a situação na Ucrânia, à medida que o Congresso debate a aprovação de um pacote de ajuda há muito esperado por Kiev.

Apenas um mês atrás, Burns alertou o Comitê de Inteligência do Senado que, sem ação do Congresso para autorizar apoio adicional, a Ucrânia provavelmente perderia terreno, especialmente em 2024, uma possibilidade amplamente dificultada pela oposição conservadora.

“Com o impulso proveniente da assistência militar, tanto em termos práticos quanto psicológicos, os ucranianos têm plena capacidade de manter sua posição até 2024 e frustrar a visão arrogante de Putin de que o tempo está a seu favor”, disse Burns.

William Burns, diretor da CIA (Foto: UNHCR/Flickr)

Burns enfatizou que, se o auxílio não for aprovado pelo Congresso, as consequências serão graves. Segundo ele, há um risco real de que os ucranianos possam perder no campo de batalha até o final de 2024, ou, pelo menos, colocar Putin em posição de ditar os termos de um acordo político.

O alerta surge enquanto autoridades em Kiev advertem sobre uma iminente ofensiva russa no verão europeu, que começa em 21 de junho, que poderia sobrecarregar as tropas ucranianas já enfrentando dificuldades.

Os comentários de Burns surgem em meio à revelação do tão aguardado pacote de ajuda externa pelo presidente da Câmara, Mike Johnson, um dia antes. Este pacote está em jogo enquanto a liderança do congresso tenta garantir os votos necessários para iniciar o debate.

Na quarta-feira (17), o alto oficial norte-americano general Charles “CQ” Brown alertou os parlamentares de que “os ganhos arduamente conquistados pela Ucrânia podem ser perdidos sem o nosso apoio”. O secretário da Defesa, Lloyd Austin, também advertiu que qualquer atraso no suplemento faria com que os aliados e parceiros questionassem nossa confiabilidade como parceiros.

O presidente Joe Biden manifestou forte apoio aos projetos de lei divulgados por Johnson. A administração tem repetidamente destacado que a demora do Congresso em aprovar ajuda à Ucrânia é uma das razões principais para as dificuldades enfrentadas por Kiev no front.

William Burns argumenta que apoiar a Ucrânia “agora vai além do conflito com a Rússia”. Ele sustenta que isso também envolve questões relacionadas às ambições de Xi Jinping na China e à segurança dos aliados e parceiros no Indo-Pacífico.

O diretor da CIA ilustrou o momento ao dizer que a Ucrânia enfrenta uma grave escassez de munição essencial no campo de batalha. Ele mencionou que duas brigadas, cada uma com mais de dois mil soldados, estavam recebendo apenas “15 tiros de artilharia por dia” e um total de apenas “42 tiros de morteiro”.

“Não podem vencer”

Para o general britânico Sir Richard Barrons, que concedeu entrevista à rede BBC recentemente, parece cada vez mais próximo o momento em que os ucranianos notarão “que não podem vencer” a guerra.

Ao justificar seu pessimismo, ele usou a mesma matemática citada na semana pelo general norte-americano Christopher Cavoli, chefe do Comando Europeu das Forças Armadas dos EUA. Segundo ambos, a falta de munição força a Ucrânia hoje a enfrentar uma vantagem de cinco para um da Rússia em termos de disparos. Ou seja, cada disparo de artilharia ucraniano é respondido por cinco do lado russo.

“Estamos vendo a Rússia atacar na linha de frente, empregando uma vantagem de cinco para um em artilharia, munições e um excedente de pessoas reforçado pelo uso de armas mais recentes”, disse Barrons. “Em algum momento deste verão esperamos ver uma grande ofensiva russa, com a intenção de fazer mais do que avançar com pequenos ganhos para talvez tentar romper as linhas ucranianas.”

Parte dessa vantagem russa se deve à interrupção de apoio norte-americano, com o Congresso dos EUA hesitante em enviar mais dinheiro, armas e munição ao aliado conforme se aproxima a eleição presidencial no país e aquece a disputa entre os partidos Republicano e Democrata.

Mas há também um outro lado da questão. A Rússia se adaptou ao conflito longo e tem sua indústria totalmente voltada aos esforços de guerra, com as fábricas de munições funcionando ininterruptamente. Assim, tem condições de produzir 250 mil munições de artilharia por mês, o que equivale a três milhões por ano. Mesmo somando esforços, os EUA e a Europa chegam a apenas 1,2 milhão ao ano.

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