Cresce o número de brasileiros deslocados por conta de tragédias climáticas

ONU diz que enchentes deslocaram 700 mil brasileiros em 2022, colocando o país como líder em casos de desastres na América do Sul

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

De acordo com um recente relatório da Organização Internacional para Migrações (OIM), as enchentes foram identificadas como a principal causa do deslocamento de mais de 700 mil brasileiros ao longo do ano de 2022. 

Este número coloca o Brasil como líder em casos de deslocamentos devido a desastres naturais na América do Sul. Desde o começo do mês, fortes chuvas têm causado inundações em diversas partes do Rio Grande do Sul. Até 7 de maio, a Defesa Civil do estado confirmou 78 mortes, outros 105 desaparecidos e 175 feridos.  

País anfitrião

Ainda assim, o Brasil está entre os países da América Latina que mais acolhem solicitantes de asilo, ao lado do Peru, México e Costa Rica

O estudo alerta que a região enfrenta desafios relacionados à degradação ambiental, desastres e mudança climática, agravando as condições em vários países que já estão passam por conflitos e violência. 

Na região, os venezuelanos continuaram a estar entre a maior população deslocada entre fronteiras no mundo em 2022. No final de 2022, havia mais de 234 mil refugiados venezuelanos registrados e mais de um milhão com casos de asilo pendentes.

Embora o Brasil não seja o país que mais recebeu venezuelanos, o levantamento afirma que o país acolheu cerca de 400 mil cidadãos do país vizinho. 

Inundação no centro de Vitória de Santo Antão, Pernambuco, junho de 2022 (Foto: WikiCommons)
Rede das Nações Unidas sobre Migração

Entre os mais de sete milhões de refugiados venezuelanos e migrantes deslocados em todo o mundo, mais de seis milhões seguem em países da América Latina e do Caribe. A Colômbia abrigava o maior número de venezuelanos, 2,5 milhões, seguida pelo Peru e Equador.

Em 2023, o Brasil voltou a fazer parte do Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular. A decisão foi bem recebida pela Rede das Nações Unidas sobre Migração por reavivar o “compromisso do país de proteger e promover os direitos de todos os migrantes que vivem no Brasil, bem como dos mais de quatro milhões de brasileiros que vivem no exterior”

América Latina

Segundo o estudo, o número de migrantes que transitam pela sub-região em direção aos Estados Unidos continua alto e tem aumentado em diversidade. A parte norte da América do Sul é uma área de trânsito importante, com migrantes, muitas vezes auxiliados por contrabandistas, fazendo viagens arriscadas através da América Central para chegar à América do Norte. 

Muitos migrantes cruzam da Colômbia para o Panamá pelo Estreito de Darién, uma densa floresta tropical que leva dias para os migrantes atravessarem, muitas vezes com preparação inadequada e sem acesso a água, serviços de saúde ou alimentos. A OIM documentou 36 mortes na mata em 2022.

Nos últimos anos, houve um aumento acentuado nas chegadas de migrantes de outras regiões do mundo à América do Sul com a esperança de fazer a travessia. Os migrantes de regiões como a África e a Ásia estão por trás de parte desse aumento e geralmente chegam por meios regulares, seja com visto ou por não terem necessidade de autorização prévia.

Outros resultados

Em 2022, cerca de 10% dos migrantes que cruzaram Darién eram da África e da Ásia. Embora o destino final desejado por muitos desses migrantes seja os Estados Unidos ou o Canadá, alguns acabam permanecendo em países da América do Sul, seja por opção ou por circunstâncias, já que a viagem para o norte costuma ser difícil e cara.

O Relatório Mundial sobre Migração 2024 ainda revela mudanças significativas nos padrões globais de migração, incluindo um número recorde de pessoas deslocadas e um grande aumento nas remessas internacionais. 

O texto destaca que a migração internacional continua sendo um impulsionador do desenvolvimento humano e do crescimento econômico, destacado por um aumento de mais de 650% nas remessas internacionais de 2000 a 2022, passando de US$ 128 bilhões para US$ 831 bilhões. 

Urgência de lidar com as crises de deslocamento

Desse valor, US$ 647 bilhões foram enviados por migrantes para países de baixa e média renda. Essas remessas podem constituir uma parte significativa do PIB desses países e, globalmente, essas remessas agora superam o investimento estrangeiro direto nesses países. 

Entre as principais conclusões, o relatório revela que, embora a migração internacional continue a impulsionar o desenvolvimento humano, os desafios persistem. 

Com cerca de 281 milhões de migrantes internacionais em todo o mundo, o número de pessoas deslocadas devido a conflitos, violência, desastres e outros motivos aumentou para os níveis mais altos nos registros modernos, chegando a 117 milhões, ressaltando a urgência de lidar com as crises de deslocamento. 

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