Chefe da inteligência canadense diz que TikTok é arma da China para extração de dados pessoais

David Vigneault diz que informações coletadas pelo aplicativo podem ser usadas por Beijing para vigiar e perseguir estrangeiros

O diretor do CSIS (Serviço Canadense de Inteligência de Segurança, da sigla em inglês), David Vigneault, acusou o governo da China de armazenar dados pessoais de cidadãos estrangeiros e afirmou que o TikTok é uma das armas dessa campanha. Ele se pronunciou durante em entrevista à rede CBC, que vai ao ar neste sábado (18) e teve parte do conteúdo publicado no site da emissora.

“Minha resposta como diretor é que existe uma estratégia muito clara por parte do governo da China para poder adquirir informações pessoais de qualquer pessoa em todo o mundo”, disse Vigneault. “Como indivíduo, eu diria que absolutamente não recomendaria que alguém tivesse o TikTok.”

A acusação do chefe da inteligência do Canadá surge um mês após o presidente dos EUA, Joe Biden, sancionar uma lei que dá à ByteDance, empresa que gerencia o aplicativo, um ano para negociá-lo. Caso contrário, ele será bloqueado em todo o país, sob o argumento de que os servidores da plataforma ficam na China e que a privacidade dos usuários não é assegurada.

Aplicativo TikTok exibido em shopping da Tailândia, em julho de 2020 (Foto: Unsplash/Olivier Bergeron)

Vigneault desfez, ainda, um argumento que segundo ele é muito comum, de que o TikTok é usado basicamente por crianças e adolescentes, cujas informações não têm qualquer função para o governo chinês.

“Bem, em cinco anos, em dez anos, esse adolescente será um jovem adulto, estará envolvido em diferentes atividades ao redor do mundo”, disse ele. “Se você estiver, por qualquer motivo, na mira da RPC (República Popular da China), eles terão muitas informações sobre você.”

O TikTok e a repressão chinesa

O debate em torno do TikTok é antigo e gira em torno justamente da entrega de informações pessoais dos usuários ao governo da China por parte da ByteDance. O principal risco enxergado por governos ocidentais é o de que a empresa tenha legalmente o dever de se reportar a Beijing.

Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, estabelece que empresas locais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que teoricamente as obriga a atender a eventuais demandas do governo por informações cadastrais.

Apesar de suas alegações em contrário, o aplicativo é acusado de colocar em risco não apenas os dados que armazena, mas todo o conteúdo do aparelho em que esteja instalado. Estudo divulgado em 2022 pela empresa australiana Internet 2.0, especializada em cibersegurança, diz que a plataforma chinesa é “excessivamente intrusiva” e realiza uma “excessiva” coleta de dados de quem o acessa.

Internet 2.0 decifrou o código-fonte e identificou como uma série de dados está sendo direcionada aos servidores da ByteDance sem que o usuário perceba. O fato de os servidores estarem conectados a uma das gigantes chinesas nos serviços de nuvem e segurança cibernética coloca a plataforma ainda mais perto do Partido Comunista Chinês (PCC).

Vigilância estatal

O diretor do CSIS disse, ainda, que a questão do TikTok está inserida em um contexto mais amplo de vigilância por parte do PCC, que inclusive exige que seus cidadãos cooperem com os serviços de inteligência do país caso o Estado exija.

“Eles estão usando análises de big data, têm fazendas de computadores incríveis processando os dados, estão desenvolvendo inteligência artificial… Isso com base no uso desses dados”, disse Vigneault. “O objetivo final é sempre proteger os interesses do Partido Comunista Chinês. E, desse ponto de vista, em muitos aspectos, isto é uma ameaça à forma como vivemos.” 

As acusações do chefe da inteligência chegaram ao primeiro-ministro Justin Trudeau, que prometeu analisar a situação e também disse observar com atenção como se desenrola o caso nos EUA.

“Quando o diretor do CSIS aponta que o TikTok representa uma ameaça real à segurança dos dados dos canadenses, acho que os canadenses precisam ouvir”, declarou o premiê. “Sabemos que muitas pessoas, principalmente jovens, gostam de usar o TikTok, e precisamos ter certeza de que o uso é seguro. Vamos, portanto, acompanhar com atenção. Mas, antes de tomar qualquer ação drástica, vamos ver como a empresa reage.”

Em resposta a mais uma denúncia, a ByteDance disse que sua plataforma “nunca compartilhou dados de usuários canadenses com o governo chinês, nem o faria se solicitado”, segundo a porta-voz Danielle Morgan. “Selecionar uma plataforma e fazer acusações sem fundamento não torna os canadenses mais seguros”, acrescentou ela, alegando ainda que os servidores não ficam mais na China.

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