Criticado pelo MAGA, Trump dobra a aposta na Arábia Saudita — entenda o plano

Visita do príncipe-herdeiro a Washington marca reaproximação estratégica e reacende críticas internas ao foco externo do governo Trump

O presidente Donald Trump prepara um dos gestos diplomáticos mais decisivos de seu segundo mandato: receber, na terça-feira, o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman na Casa Branca. A visita, a primeira desde que o líder saudita foi implicado no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, simboliza o fortalecimento de uma parceria que desafia aliados, críticos internos e até parte do Maga (“Make America Great Again“, ou “Faça a América Grande Novamente”). As informações são do Politico.

Trump pretende oferecer a MBS um pacote de alto impacto: um eventual acordo bilateral de segurança, que garantiria proteção dos EUA à Arábia Saudita em caso de ataque. O pacto seguiria o modelo da ordem executiva que prometeu defender o Catar em setembro, um movimento que surpreendeu a região e estabeleceu um precedente similar ao da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Oriente Médio.

Donald Trump conversa com Mohammed bin Salman durante reunião no Salão Oval em março de 2017 (Foto: Trump White House Archived/Flickr)

A iniciativa ocorre mesmo após o príncipe-herdeiro recusar a principal prioridade de Trump: normalizar relações com Israel, impasse agravado pela guerra em Gaza. Por ora, o governo aponta para novos investimentos sauditas – além dos US$ 600 bilhões já anunciados este ano – como a vitrine da aproximação.

Conversas semanais e alinhamento estratégico

Segundo fontes da Casa Branca, Trump e Bin Salman conversam por telefone semanalmente. A afinidade pessoal tem se convertido em acordos concretos, que incluem:

  • possível compra saudita de caças F-35,
  • importação de chips de inteligência artificial produzidos nos EUA,
  • sinalização de apoio ao programa nuclear saudita,
  • novas conferências de investimentos em Washington.

A Arábia Saudita também tenta atrair mais capital privado para projetos de modernização econômica, uma prioridade diante dos retornos mais fracos do Fundo de Investimento Público e da queda nos lucros da Saudi Aramco.

Tensão no movimento MAGA

A diplomacia agressiva de Trump tem provocado desconforto entre aliados internos. Depois da vitória democrata nas eleições deste mês, figuras como Marjorie Taylor Greene e Steve Bannon criticaram o foco do presidente em líderes estrangeiros enquanto demandas internas, pilar do lema “América Primeiro”, seguem pendentes.

Greene escreveu no X que “gostaria de ver reuniões constantes sobre política interna, não sobre líderes estrangeiros”. Trump respondeu classificando-a como “lunática delirante” e retirou publicamente seu apoio político.

Arábia Saudita busca o mesmo status do Catar

Para analistas, a nova visita tem objetivo claro: garantir para Riad um acordo de segurança tão robusto quanto o dado ao Catar.

“Eles viram o que o Catar conseguiu e querem igual. Ou mais”, disse Jonathan Schanzer, da Fundação para a Defesa das Democracias.

O ministério da Defesa saudita já confirmou encontros prévios com o secretário de Defesa, Pete Hegseth, o secretário de Estado, Marco Rubio, e o enviado especial Steve Witkoff.

O que esperar da visita

Especialistas acreditam que Trump deve usar o encontro para:

  • exibir avanços econômicos e diplomáticos,
  • reforçar seu papel central no Oriente Médio,
  • pressionar por um eventual cessar-fogo no Sudão,
  • e testar a reação da ala mais nacionalista de sua base.

A Casa Branca, até o momento, não comentou a visita oficialmente.

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