Em segredo, Biden aprovou documento que põe os EUA em alerta para um confronto nuclear

Estratégia de dissuasão determina que o país se prepare para enfrentar o crescente poder atômico da China, citando ainda Rússia e Coreia do Norte

O presidente norte-americano Joe Biden aprovou em segredo uma nova estratégia de dissuasão nuclear que prepara os EUA para enfrentar a crescente ameaça representada pela China; e, em segundo plano, por Rússia e Coreia do Norte. A informação foi revelada pelo jornal The New York Times (NYT) na terça-feira (20).

O documento, redigido em março deste ano, destaca o rápido crescimento do arsenal nuclear da China, que deverá igualar o tamanho e a diversidade dos estoques de EUA e Rússia na próxima década. Além disso, cita a ameaça do presidente russo Vladimir Putin de usar armas nucleares na guerra da Ucrânia.

Atualizada a cada quatro anos ou mais, a estratégia de dissuasão nuclear é altamente confidencial, com apenas algumas cópias impressas distribuídas a oficiais de segurança nacional e comandantes do Pentágono. Não são feitas cópias eletrônicas do documento.

Funcionários do governo Biden já haviam indicado essa mudança anteriormente. Em junho, Pranay Vaddi, diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional, mencionou em uma conferência de controle de armas que, diante das “novas realidades de uma era nuclear”, Biden havia ampliado a política para enfrentar as ameaças desses países.

Veículos militares carregam mísseis balísticos intercontinentais DF-5B durante um desfile em Beijing (Foto: WikiCommons)

Uma pesquisa do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo revelou que, em janeiro, a China tinha cerca de 500 ogivas nucleares, um aumento em relação às 410 de janeiro de 2023. Tanto os EUA quanto a Rússia possuem mais de cinco mil ogivas cada, mas acredita-se que o arsenal da China esteja crescendo a uma taxa muito mais rápida que o de qualquer outro país.

O mesmo estudo projetou que o número de mísseis balísticos intercontinentais da China, atualmente cerca de 238, pode superar os 800 dos EUA e os 1.244 da Rússia na próxima década. Esses números preocupam Washington a ponto de a estratégia de dissuasão nuclear ter sido alterada.

Vaddi também revelou que Washington estava avaliando a expansão de seu arsenal para conter as capacidades ofensivas de seus adversários. Isso representaria uma mudança significativa em relação à era pós-Guerra Fria, quando os EUA iniciaram esforços diplomáticos para reduzir os estoques nucleares globais.

“Rússia, China e Coreia do Norte estão ampliando e diversificando seus arsenais nucleares a uma velocidade impressionante, demonstrando pouco ou nenhum interesse pelo controle de armas”, afirmou o diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional.

Em uma breve declaração após a publicação da reportagem, o porta-voz da Casa Branca Sean Savett declarou que, embora “o texto específico da orientação seja confidencial, sua existência não é secreta”. Ele afirmou que a orientação emitida no início deste ano não é uma resposta a qualquer país, entidade ou ameaça específica.

No passado, era improvável que adversários dos EUA representassem uma ameaça nuclear real ao país. Essa percepção mudou devido à aliança entre Rússia e China e ao suporte de Coreia do Norte e Irã a Moscou na guerra da Ucrânia.

Atualmente, russos e chineses realizam exercícios militares conjuntos frequentes, e a inteligência dos EUA investiga se o Kremlin está ajudando nos programas de mísseis de Pyongyang e Teerã.

Os EUA e a China começaram a negociar informalmente sobre controle de armas nucleares em março, após cinco anos sem conversas nesse sentido. No entanto, os debates foram suspensos em julho devido às vendas de armas dos EUA para Taiwan. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Lin Jian afirmou que essas vendas prejudicaram a continuidade das discussões.

Segundo o NYT, o novo documento mostra que, a partir de 20 de janeiro, o futuro presidente dos EUA enfrentará um cenário nuclear muito mais instável que o de três anos atrás. Putin fez várias ameaças de usar armas nucleares contra a Ucrânia, incluindo durante uma crise em outubro de 2022. À época, Biden e seus assessores temiam que a chance de um ataque nuclear era de 50% ou mais, com base em conversas interceptadas entre altos comandantes russos.

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