A ascensão de líderes progressistas na América do Sul, celebrada há poucos anos como uma nova “maré rosa”, ou “onda rosa” (do inglês “pink tide“), começa a dar sinais de enfraquecimento. No Brasil, Chile e Colômbia, governos de esquerda enfrentam queda de popularidade, pressão econômica, aumento da criminalidade e desafios externos vindos da política de Donald Trump. As informações são do The Washington Post.
O presidente chileno Gabriel Boric, eleito como símbolo da renovação da esquerda latino-americana, vê sua aprovação despencar enquanto o país se prepara para eleições em novembro. O conservador José Antonio Kast, derrotado por Boric em 2021, lidera as pesquisas com uma campanha centrada em imigração e segurança pública, temas que também impulsionam a direita em outros países do continente.

Na Colômbia, Gustavo Petro enfrenta críticas pela condução econômica e pelo aumento da violência. O governo Trump o classificou como “errático e ineficaz”, reforçando o desgaste de sua imagem. Já no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta recuperar índices de aprovação após confrontos diplomáticos e sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos durante o segundo mandato de Trump. Embora o jogo tenha virado após o encontro entre os líderes na Assembleia Geral da ONU no mês passado, marcado por uma “química” favorável.
Apesar das diferenças, os três líderes compartilham um cenário semelhante: queda de apoio popular, pressão da direita e tensões com Washington. Enquanto Boric tenta manter o equilíbrio e evitar conflitos diretos, Petro e Lula transformaram a relação com Trump em um embate político, usando o discurso anti-imperialista para mobilizar suas bases.
Durante entrevista ao Washington Post, Boric evitou apoiar governos de esquerda autoritários, como os da Venezuela e Nicarágua, afirmando que “a esquerda não pode ter dois pesos e duas medidas”. O chileno defende reformas sociais e maior responsabilidade democrática, mas reconhece que a falta de resultados concretos tem levado o eleitorado a buscar alternativas conservadoras.
O cenário reflete uma tendência mais ampla no continente: a reversão do ciclo progressista iniciado na década de 2010. Especialistas apontam que a economia estagnada, a crise migratória e a insegurança pública têm alimentado um novo avanço da direita na região, um movimento que ecoa a retórica populista de Trump e sua influência global.
“Não basta dizer que a extrema direita é ruim. Precisamos oferecer soluções concretas para melhorar a vida das pessoas”, disse Boric, ao comentar a crise de confiança nas democracias sul-americanas.
De acordo com analistas, com eleições à vista no Chile e a incerteza sobre uma possível nova candidatura de Lula em 2026, o futuro da esquerda latino-americana parece depender menos da retórica ideológica e mais da capacidade de responder às demandas sociais de um eleitorado cada vez mais impaciente.