O Irã ultrapassou significativamente os limites estabelecidos pelo acordo nuclear de 2015, com seu estoque de urânio enriquecido atingindo 22 vezes o limite permitido, alertou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em um relatório confidencial trimestral distribuído aos Estados-membros.
O documento revelou que, em 28 de outubro, a República Islâmica possuía um total de 4.486,8 quilos de urânio enriquecido, um aumento de 691,3 kg desde o último relatório em setembro de 2023. O limite estabelecido em 2015 era de 202,8 quilos.
A constatação eleva as tensões em relação ao programa nuclear iraniano e pode resultar em crescentes tensões diplomáticas, já que a AIEA aponta que o estoque atual de urânio, com uma pureza de até 60% – a um passo dos níveis de 90% utilizados em armas – é suficiente para a produção de três bombas atômicas, segundo informações da agência Al Jazeera.
Aumentando as desconfianças, o regime iraniano torna as inspeções nos centros de testes e produção no país do Oriente Médio mais desafiadoras, como ocorreu após a remoção dos equipamentos de monitoramento e vigilância na metade do ano.
Na quarta-feira (15), o órgão de vigilância nuclear criticou a decisão de Teerã de retirar a acreditação de vários inspetores, anunciada em setembro, classificando-a como “extrema e injustificada”. O chefe da agência, Rafael Grossi, destacou que essa medida teve um impacto direto e significativo no trabalho da AIEA, sendo uma postura “inequivocamente contrária à cooperação necessária”, conforme indicado em seu relatório.
A retirada afetou oito inspetores de alto escalão, incluindo cidadãos franceses e alemães, numa medida que Teerã justificou como retaliação por “abusos políticos” por parte dos Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido. No caso, sanções, como as impostas pelo governo Trump.
Nesse contexto argumentativo, o relatório relata que a AIEA recebeu uma carta do Irã na quarta-feira, reafirmando sua posição de ter o direito de retirar a acreditação de inspetores. Nela, o governo iraniano afirmou estar “explorando possibilidades para responder” ao pedido da agência nuclear para restabelecer a cooperação.
Sob o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), de 1967, os signatários geralmente têm o direito de vetar inspetores designados para visitar suas instalações nucleares. Grossi expressou sua “esperança” de que a questão seja “resolvida rapidamente”.
O relatório da AIEA ainda destacou a ausência de avanço até agora na reinstalação de equipamentos de monitoramento, incluindo câmeras, que foram retirados pelo Irã em junho de 2022, segundo o jornal Times of Israel.
Por que isso importa?
Em 2015, o Irã assinou o acordo nuclear com Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, China e Rússia, que permite que o país mantenha estoque de apenas 202 kg, em troca de incentivos econômicos. O objetivo é impedir que Teerã desenvolva uma bomba nuclear.
No entanto, o país continua aumentando seus estoque de urânio e, portanto, violando o acordo firmado com grandes potências mundiais.
Em março, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto das forças armadas norte-americana, disse que o Irã teria condições de produzir uma arma nuclear em “alguns meses” se assim o desejasse.
“O Irã poderia produzir material de fissão para uma arma nuclear em menos de duas semanas e levaria apenas mais alguns meses para produzir uma arma nuclear real”, disse o militar ao Congresso dos EUA.
Em janeiro, a AIEA já havia alertado que o governo iraniano tem atualmente material suficiente para construir “várias armas nucleares”. E que, embora o país ainda não tenha construído sua bomba atômica, teria condições de fazê-lo se assim pretendesse.