Jornalista norte-americano é libertado pelo governo de Mianmar e retorna aos EUA

Danny Fenster chegou a ser condenado a 11 anos de prisão e poderia pegar prisão perpétua. Diplomata ajudou a negociar a libertação dele

O jornalista norte-americano Danny Fenster desembarcou nesta terça-feira (16) em Nova York. Ele foi libertado pelo governo militar de Mianmar após passar quase seis meses preso, de acordo com a agência de notícias Associated Press.

Na semana passada, Fenster foi julgado e condenado a 11 anos de prisão sob as acusações de violar o visto de permanência no país, associação a um grupo ilegal e incitamento, que classifica como crime a publicação ou divulgação de comentários que “causem medo” ou espalhem “notícias falsas”. Ele ainda seria julgado uma segunda vez por terrorismo e sedição, crimes que têm a prisão perpétua como pena máxima prevista em lei.

A libertação do jornalista, mesmo após a condenação, ocorreu com a ajuda do diplomata Bill Richardson, que viajou a Mianmar e participou das negociações pela liberdade.

Ao desembarcar em seu país, Fenster afirmou que o reencontro com a família é “um momento que eu tinha imaginado tão intensamente por tanto tempo. Supera tudo que eu havia imaginado”.

Jornalista norte-americano é libertado pelo governo de Mianmar e desembarca em NY
Danny Fenster com a família ao desembarcar nos EUA após ser libertado pelo governo de Mianmar (Foto: reprodução/Twitter)

Durante uma conexão que o voo fez no Catar, o jornalista disse que não foi agredido nem passou fome no período em que esteve detido. Por outro lado, ele disse acreditar que contraiu Covid-19 no cárcere, informação que as autoridades de Mianmar negam. Agora, ele aguarda o retorno da mulher dele, que também estava no país asiático e viajou aos Estados Unidos em um voo diferente.

Por que isso importa?

Editor-chefe da revista Frontier Myanmar, Fenster foi preso em maio deste ano pouco antes de embarcar em um voo que o levaria de volta aos EUA, no Aeroporto de Yangon. A prisão é a maior do país e ganhou fama pelos maus tratos e torturas – especialmente contra jornalistas e adversários políticos do governo.

Pelo menos 100 jornalistas foram presos desde 1º de fevereiro em Mianmar, e 51 estavam detidos em setembro, quando foi feito o último levantamento da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF). O país asiático está no 140º lugar do ranking de 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa da RSF.

Em junho, após três meses detido pelas forças de segurança, outro jornalista norte-americano, Nathan Maung, foi libertado e retornou aos Estados Unidos. Ele contou que, durante o período de detenção, foi torturado e mantido vendado por mais de uma semana enquanto era interrogado. A detenção se estendeu do dia 9 de março até 15 de junho. 

“Os primeiros três ou quatro dias foram os piores”, disse Maung. “Fui esmurrado e esbofeteado várias vezes. Não importava o que eu dissesse, eles apenas me batiam. Eles usavam as duas mãos para bater nos meus tímpanos e socavam minhas bochechas dos dois lados. Socavam meus ombros, minhas pernas estavam inchadas… Não conseguia mais me mover”.

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1252 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro deste ano, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

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