México: A nova Eldorado para empresários chineses

Comerciantes chineses buscam oportunidades econômicas no México ao construir mercados movimentados, vender produtos fabricados na China e enfrentar, por vezes, resistência de empreendedores locais

Nos últimos anos, o México tem se tornado um destino que reinventou a corrida do ouro para empreendedores expatriados chineses. Atraídos por um ambiente de negócios em expansão, custos de mão de obra mais baixos e um mercado consumidor crescente, esses empreendedores estão investindo em diversos setores da economia mexicana, procurando servir tanto o mercado local como os EUA. As informações são do jornal South China Morning Post.

Em apenas quatro anos, Lin Yun, um empresário da província chinesa de Fujianese, ergueu do zero uma uma espécie de Chinatown no coração da Cidade do México. Agora, ele tem planos ambiciosos para expandir ainda mais.

Lin é o cérebro por trás de quatro mercados atacadistas que abrigam cerca de 4,5 mil lojas ao longo da rua José Maria Izazaga. O bairro, outrora desprovido de qualquer traço de chinesismo, agora está repleto de lanternas vermelhas, placas e outdoors chineses, e uma ampla variedade de produtos – muitos deles fabricados na China.

Produtos chineses à venda no Barrio Chino na Cidade do México (Foto: WikiCommons)

Lin, de 45 anos, contou à reportagem que dorme apenas de quatro a cinco horas por noite. Seu tempo é quase todo dedicado a atender ou responder clientes. Seu escritório tem vista para um prédio branco de cinco andares do outro lado da rua, onde 13 caracteres chineses em blocos na parede indicam “China Guangzhou International Commercial City, Wholesale Centre” – um dos mercados de Lin. Ele explicou que os clientes o procuram para diversos tipos de negócio, desde a busca por armazéns até orientações sobre como chegar ao México. Seu ritmo é incessante: se não conferir seu telefone por uma hora, Lin pode encontrar 100 mensagens não lidas esperando por ele.

Pequenos comerciantes chineses veem no México um novo destino promissor, desafiando estereótipos comuns sobre o país, como a violência e o tráfico de drogas. Este movimento atraiu expatriados em busca de oportunidades. Alguns, descontentes com os mercados saturados na Europa e na América Latina, optaram por se aventurar em território mexicano, enquanto outros deixaram a China devido ao excesso de capacidade industrial e à demanda insuficiente pós-pandemia.

Um exemplo é Sebastian Ho, que passou mais de uma década no México antes de retornar brevemente à China em 2016. Dois anos depois, voltou à Cidade do México e montou uma loja no Izazaga 89, conhecido como Yiwu City. Ho oferece uma variedade de produtos, desde chaveiros até garrafas de água, em um mercado atacadista. Ele explica que na China atualmente é difícil para pessoas com pouca educação superior ganharem dinheiro, devido à grande pressão econômica.

A economia mexicana registrou um crescimento anual de 3,2% em 2023, consolidando sua posição como um importante destino para o nearshoring – prática de transferir parte das operações de uma empresa para países geograficamente próximos, em vez de locais mais distantes, como uma estratégia para reduzir custos e melhorar a eficiência dos EUA. Consequentemente, o país avançou duas posições no ranking mundial, tornando-se a 12ª maior economia, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Apesar desse crescimento, empresários como Ho relatam que a concorrência está aumentando, reduzindo os lucros. Ho observa que o cenário era mais favorável há um ano, mas agora os ganhos são mais modestos.

Enquanto isso, na cidade de Yiwu, muitas lojas estão passando por reformas para abrir suas portas em breve. Além disso, é comum ver novos empresários buscando espaço para alugar, muitas vezes percorrendo todos os 16 andares do mercado em busca do espaço ideal.

Vistos de residência dobraram

De acordo com o Ministério do Turismo do México, o país concedeu mais de cinco mil vistos de residência temporária a migrantes chineses em 2023, mais do que o dobro do ano anterior.

Com esses números, a China se tornou o terceiro país de origem mais comum para migrantes no México no último ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Colômbia.

Segundo o professor Eduardo Tzili-Apango, da Universidade Autônoma Metropolitana do México, o aumento de migrantes chineses não gerou uma reação significativa dos moradores locais, ao contrário do que aconteceu com os trabalhadores americanos após a pandemia e os imigrantes haitianos. Isso marca uma mudança na atitude da sociedade mexicana em relação aos chineses, influenciada pelos esforços do governo e pela influência positiva da cultura chinesa.

Mas nem todo lugar é assim.

Em outras regiões do país, os chineses encontram resistência dos comerciantes mexicanos. Em junho, houve um grande protesto em Tulancingo, no estado de Hidalgo, onde os moradores locais pediram aos governos municipais e estaduais para impedir a abertura de novas lojas chinesas. Centenas de pessoas carregavam cartazes com mensagens como “Chineses, vão embora” e “Isso é competição desleal”, enquanto gritavam slogans como “Tulancingo para sempre, não ao comércio chinês”.

Representantes de um sindicato comercial entregaram uma petição pedindo a proibição de novas licenças, preocupados com o aumento do desemprego na cidade devido à competição chinesa. Esses eventos foram relatados pela mídia local.

Forte presença

A presença das marcas chinesas no México está em ascensão, alterando o cenário comercial do país. A BYD, conhecida fabricante de veículos elétricos e baterias, está expandindo rapidamente, tendo inaugurado sua primeira fábrica de veículos elétricos em solo mexicano em 2022 e com planos de investir US$ 500 milhões até 2025. Já presente no mercado mexicano com a venda de carros elétricos, a BYD visa aumentar sua participação no setor automotivo do país.

Em paralelo, a DiDi, empresa de transporte urbano por aplicativo, entrou no México em 2018 e em pouco tempo se tornou uma das principais opções de transporte nas cidades mexicanas. Oferecendo uma variedade de serviços, desde transporte de carros até entrega de comida, a DiDi solidificou sua presença como uma das maiores empresas do setor de transporte urbano do país.

Além disso, outras marcas chinesas estão seguindo o mesmo caminho de expansão no México. Empresas como Huawei, Xiaomi, Lenovo e Alibaba estão investindo em diferentes setores da economia mexicana, abrangendo tecnologia, telecomunicações e comércio eletrônico.

No entanto, o crescimento das marcas chinesas também está gerando alguns questões ásperas, como a concorrência com empresas locais e a questão da transferência de tecnologia.

Além disso, essas marcas enfrentam alguns desafios no México, como a barreira linguística, a cultura de negócios local e a regulamentação governamental.

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