Milei busca diplomata experiente para reconstruir relações entre Argentina e China

O ultraliberal, que faz críticas contundentes a Beijing, está prestes a indicar Marcelo Suarez Salvia para alinhar diferenças ideológicas

A Argentina está prestes a nomear um experiente diplomata como seu novo embaixador na China, em um esforço para restaurar a estabilidade nas relações bilaterais abaladas pelas recentes declarações do novo chefe da Casa Rosada, o ultraliberal Javier Milei. O movimento também visa fortalecer os laços entre os dois países, considerando que Beijing é o segundo maior parceiro comercial de Buenos Aires, conforme informações repercutidas pelo South China Morning Post.

A decisão de escolher Marcelo Suarez Salvia, um experiente diplomata de carreira que atualmente desempenha funções como principal enviado a Trinidad e Tobago, foi o desfecho de uma série de negociações, tanto formais quanto informais, entre autoridades argentinas e chinesas, conforme apurado pelo jornal argentino Clarín.

Segundo informações do portal de notícias El Zonda, Beijing recebeu a proposta de nomeação de Salvia e comunicou a Buenos Aires que a aceitaria. O diplomata já atuou no Ministério das Relações Exteriores argentino no começo dos anos 2000 e também representou o país em várias conferências e cúpulas da ONU (Organização das Nações Unidas).

Javier Milei visita o embaixador dos Estados Unidos na Argentina, Marc Stanley, em maio de 2023 (Foto: WikiCommons)

Crítico do comunismo e do socialismo, o autoproclamado anarcocapitalista Milei fez comentários críticos sobre a China durante sua campanha presidencial, gerando tensões. Ele afirmou que, se eleito, romperia tanto com a nação asiática quanto com o Brasil, os dois principais parceiros comerciais de Buenos Aires e governados por regimes de esquerda.

Milei, comprometeu-se a reorientar a política externa argentina, dando indícios de um possível tensionamento nas relações com a China, principal importador de produtos agrícolas do país. Beijing também desempenha um papel fundamental como investidor em setores estratégicos da Argentina, como a indústria de lítio e projetos de infraestrutura.

Na corrida eleitoral, Milei tratou a China como “assassina”, e questionou a possível adesão argentina ao BRICS, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O convite para Buenos Aires se juntar ao bloco econômico, anunciado em agosto como parte de uma expansão, parece enfrentar resistência com base nas declarações do presidente.

Nesse cenário de mal-estar entre os países, na semana passada, em uma jogada mais política que econômica, Beijing aumentou a pressão sobre o governo argentino ao suspender um acordo de swap – um contrato entre duas partes para trocar pagamentos financeiros – anunciado em outubro pelo ex-ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa. A medida congela um empréstimo de 6,5 bilhões de dólares para Buenos Aires, impactando nas contas públicas do país que atravessa uma forte recessão.

A posição de Milei difere e muito da abordagem do ex-presidente Alberto Fernández, que enalteceu a China como uma “verdadeira aliada” da Argentina. Em 2022, o então líder assinou um memorando com Beijing que promove a incorporação do país à iniciativa Nova Rota da Seda, em um acordo que prevê investimentos e financiamentos. 

A nomeação de Salvia como novo embaixador argentino na China é vista como uma tentativa do governo de Milei de estabilizar as relações bilaterais. Salvia, que já coordenou a presidência conjunta do Grupo dos 77 (uma coalizão de nações em desenvolvimento) da Argentina e da China em 2011, substituirá Sabino Vaca Narvaja, embaixador desde março de 2021.

Cui Shoujun, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Renmin da China, destacou a experiência de Salvia em lidar com questões complexas, como cooperação comercial e divergências ideológicas, ressaltando a relevância dessa habilidade para a gestão dos laços sino-argentinos.

A Argentina já adotou uma postura crítica em relação à China no passado. Em 2015, Mauricio Macri foi eleito presidente após adotar uma posição firme contra Beijing durante sua campanha. Entretanto, durante seu mandato, Macri assinou acordos de investimento significativos com o governo chinês, totalizando bilhões de dólares, abrangendo setores como energia, mineração, agricultura e transporte.

Tags: