Em uma jogada mais política que econômica, Beijing aumentou a pressão sobre o governo argentino ao suspender um acordo de swap – um contrato entre duas partes para trocar pagamentos financeiros – anunciado em outubro pelo ex-ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa. A medida congela um empréstimo de bilhões de dólares para Buenos Aires e deve estourar nas contas públicas do país que atravessa uma forte recessão. As informações são do site Infobae.
Nos últimos meses de seu mandato, o líder peronista Alberto Fernández e seu homólogo chinês, Xi Jinping, concordaram com a renovação do acordo de swap, e a China disponibilizou uma linha adicional de crédito para os parceiros.
O recém-eleito presidente argentino Javier Milei fez um pedido especial a Xi em carta enviada apenas dois dias após assumir a Casa Rosada, buscando o acordo que, no entanto, acabou colocado em espera pelas autoridades chinesas.
Em 11 de dezembro, um dia após colocar a faixa presidencial no peito, Milei também se reuniu com Wu Weihua, vice-presidente da Assembleia Popular da China, em seu gabinete. Apesar dos esforços iniciais do ultraliberal, o acordo permanece em suspenso.
Ajuda a explicar a decisão de Beijing sua insatisfação com os progressos feitos pelo Ministério da Defesa argentino na aquisição de caças F-16 de propriedade dinamarquesa nesta semana, rejeitando a oferta chinesa de jatos militares JF-17. Os Estados Unidos, fabricante das aeronaves, aprovaram a transação em outubro, comprometendo-se ainda a fornecer armamento, treinamento e suporte logístico.
Essa suposta decisão, ainda não oficial, causou desconforto no governo chinês, que busca “um gesto de boa vontade e amizade”.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, ordenou que o embaixador em Buenos Aires, Wang Wei, retornasse à China para relatar os primeiros passos de Milei na Casa Rosada e para buscar informações sobre os projetos cruciais de Xi Jinping para a Argentina. Entre eles a revitalização de uma ferrovia com investimentos de US$ 816,7 milhões, além de projetos de represas, hidrovias e de exploração de lítio.
Milei e seu ministro da Economia, Luis Caputo, buscavam a liberação de fundos para pagar compromissos iminentes, sobretudo uma parcela de US$ 2,6 bilhões devida ao FMI (Fundo Monetário Internacional. Sem apoio da China, conseguiram um crédito de US$ 900 milhões da CAF (Corporación Andina de Fomento), que funciona como uma espécie de banco de desenvolvimento sul-americano.
Lealdade
Após assumir o cargo, o líder argentino recebeu cumprimentos de Xi, mas o Partido Comunista Chinês (PCC) espera mais do que gestos para garantir um compromisso financeiro significativo. O descontentamento em relação a um potencial acordo para os caças F-16 não é a única questão; a China também está à espera de uma visita ou encontro entre os líderes para fortalecimento das relações.
O acordo de swap com a China é uma linha de crédito não automática à disposição da Argentina, enquanto o governo enfrenta a pressão de quitar US$ 2,6 bilhões com o FMI em 21 de dezembro.
Crítico do comunismo e do socialismo, o autoproclamado anarcocapitalista Milei fez comentários críticos sobre a China durante sua campanha presidencial. Ele afirmou que, se eleito, romperia tanto com a nação asiática quanto com o Brasil, os dois principais parceiros comerciais de Buenos Aires e governados por regimes de esquerda.
Em novembro, por sua vez, as autoridades chinesas destacaram as relações bilaterais positivas com a Argentina e alertaram o então recém-eleito Milei sobre os impactos de um possível rompimento diplomático, relatou à época o jornal El País. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, considerou a ameaça um “erro grave”.
Mao também destacou que a China é o segundo maior parceiro comercial da Argentina e seu principal mercado de exportação para produtos agrícolas. No ano passado, as exportações para o gigante asiático atingiram mais de US$ 8 bilhões, enquanto as importações foram de US$ 17 bilhões, conforme dados oficiais argentinos.
Nos últimos meses, Beijing também se tornou credora de Buenos Aires, utilizando créditos em yuan para quitar o empréstimo da Argentina ao FMI e lidar com emergências.
O país latino-americano tenta reestruturar um empréstimo de US$ 57 bilhões feito pelo ex-presidente Mauricio Macri em 2018.