No cenário internacional, Javier Milei, o presidente argentino que ascendeu com discursos de extrema direita e promessas de ruptura total com o status quo, mostrou um lado inesperadamente pragmático durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Aquele que outrora chamou líderes como Xi Jinping e Luiz Inácio Lula da Silva de “assassinos” e “comunistas corruptos” agora estreita laços comerciais e busca compromissos que beneficiem a economia argentina. As informações são da Associated Press.
Na última terça-feira (19), Milei apertou a mão do presidente chinês, destacando o interesse de impulsionar o comércio bilateral com a potência asiática. A mudança de tom ocorreu um dia após seu ministro da Economia assinar um acordo preliminar para exportação de gás natural argentino ao Brasil, marcando um passo significativo na tentativa de estabilizar as finanças do país.
A postura pragmática contrastou com as atitudes controversas que marcaram os primeiros dias de sua gestão. Milei retirou negociadores argentinos da cúpula do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), votou contra resoluções que defendem os direitos indígenas e o combate à violência contra mulheres, além de criticar abertamente a liderança de Lula no G20. Mesmo assim, surpreendeu ao endossar uma declaração conjunta no evento, demonstrando disposição para manter a Argentina no jogo diplomático.
Alinhamentos e distanciamentos estratégicos
A política externa argentina também sofreu reconfigurações. Milei reforçou alianças com governos de direita, como a Itália, cujo apoio foi simbolizado pela visita da primeira-ministra Giorgia Meloni a Buenos Aires no início da semana. Israel, outro parceiro próximo, também parece ter influenciado decisões recentes, como a retirada das tropas argentinas da missão de paz da ONU no sul do Líbano (UNIFIL).
Embora o porta-voz da missão, Andrea Tenenti, não tenha esclarecido os motivos da saída, sabe-se que Israel pressiona há anos pela redução da presença internacional na região.
Ideologia ou sobrevivência?
As movimentações de Milei no cenário internacional indicam um dilema que muitos líderes populistas enfrentam ao assumir o poder: a necessidade de equilibrar uma retórica ideológica com a realidade prática. Apesar de sua retórica anti-China e anti-Brasil, a economia argentina depende da manutenção e expansão de parcerias comerciais com esses países. Ao mesmo tempo, seu alinhamento com Israel e governos de direita na Europa reforça sua marca política no espectro internacional.
O futuro de sua gestão, contudo, dependerá de sua habilidade de manter esse equilíbrio. A questão que permanece é até onde Milei está disposto a flexibilizar suas posições sem alienar sua base de apoiadores — muitos dos quais votaram nele justamente por sua promessa de ruptura com o sistema.
Oportunidades
Segundo o governo argentino, os líderes expressaram no encontro interesse em explorar novas oportunidades de cooperação.
A Argentina, altamente dependente da China como mercado para soja e outras commodities, busca consolidar laços com seu segundo maior parceiro comercial, especialmente em um momento de crise econômica interna.
A China possui investimentos estratégicos no país, incluindo participação em minas de lítio e uma estação espacial na Patagônia. Xi Jinping elogiou a disposição de Milei em aprofundar a parceria bilateral, em contraste com as tensões anteriores, quando o presidente argentino questionou publicamente o regime chinês durante sua campanha eleitoral.