Pentágono amplia lista de empresas que servem às Forças Armadas da China

EUA querem impedir que companhias norte-americanas apoiem os interesses militares de Beijing, mesmo que involuntariamente

O Departamento de Defesa dos EUA adicionou na quarta-feira (31) novos nomes à relação de empresas acusadas de servir aos interesses do Exército de Libertação Popular (ELP), da China. O objetivo do governo norte-americano é impedir que entidades nacionais, mesmo que involuntariamente, apoiem os interesses militares de Beijing. As informações são da agência Reuters.

Na lista, chama a atenção a presença da Huawei, que enfrenta escrutínio ocidental devido à suspeita de que atua sob as ordens do Partido Comunista Chinês (PCC). Na relação há empresas de setores diversos, como inteligência artificial, geolocalização, armazenamento em nuvem, geração de energia, telefonia e aviação civil.

A presença na relação não prevê a aplicação de qualquer tipo de sanção às companhias listadas ou às entidades ou indivíduos que venham a dialogar com elas. Entretanto, gera desconfiança em torno das empresas chineses e as distancia especialmente do mercado norte-americano, apreensivo quanto aos riscos de colaborar para o desenvolvimento das Forças Armadas chinesas.

Soldados do Exército de Libertação Popular da China durante uma parada militar (Foto: WikiCommons)

Em comunicado publicado em seu site, o Pentágono afirmou que a atualização da lista, que ocorre periodicamente, é “um importante esforço contínuo para destacar e combater a estratégia de fusão militar-civil da RPC (República Popular da China).”

Ainda de acordo com o órgão governamental norte-americano, a estratégia de fusão militar-civil apoia os objetivos de modernização do ELP, garantindo que este possa adquirir “tecnologias avançadas e conhecimentos especializados desenvolvidos por empresas, universidades e programas de pesquisa da RPC que parecem ser entidades civis.” 

A lista, inserida na seção 1260H da Lei de Autorização de Defesa Nacional, incomoda a China, que reagiu ao anúncio de ampliação. Através de um porta-voz, a embaixada chinesa em Washington disse que a medida é um abuso de poder estatal e contraria o suposto compromisso dos EUA com a concorrência de mercado e o comércio internacional justo.”

A embaixada afirmou também que os EUA deveriam “retificar imediatamente as práticas discriminatórias”, fornecendo às empresas chinesas “um ambiente justo, equitativo e não discriminatório” para que possam operar globalmente.

Quem se manifestou nos mesmos termos foi o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin. Nas palavras dele, Washington “viola os princípios de concorrência de mercado e as regras econômicas e comerciais internacionais que sempre defendeu e mina a confiança das empresas estrangeiras em investir e operar nos Estados Unidos.”

Apesar dos protestos chineses, o Pentágono afirma que a relação continuará sendo atualizada “com entidades adicionais, conforme apropriado.” E sugeriu que sanções não estão descartadas futuramente. “O governo dos Estados Unidos reserva-se o direito de tomar medidas adicionais relativamente a estas entidades ao abrigo de autoridades diferentes da secção 1260H”, conclui o texto.

Por que isso importa?

Os Estados Unidos têm constantemente manifestado preocupação com a fusão militar-civil pela China, acusada inclusive de se apropriar de estudos e tecnologias desenvolvidos por pesquisadores a serviço de universidades de todo o mundo.

No final de outubro de 2021, oficiais de inteligência norte-americanos advertiram que a China estaria coletando dados genéticos em todo planeta para criar o que pode vir a ser o maior banco de dados biológico do mundo.

O Centro Nacional de Contrainteligência e Segurança (NCSC, da sigla em inglês) relatou em um artigo que, diante da iminente situação, os EUA deveriam aperfeiçoar a proteção de tecnologias críticas, incluindo inteligência artificial, computação quântica, semicondutores e outras tecnologias relacionadas à bioeconomia.

“A China e outros países estão tentando dominar essas tecnologias e estão usando meios legais e ilegais para adquirir know-how americano”, disse na oportunidade Michael Orlando, diretor interino do NCSC.

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