Rastros digitais levaram à prisão do jovem que divulgou documentos do Pentágono

Jack Douglas Teixeira, um membro da Guarda Nacional que publicou o material em uma rede social, foi preso pelo FBI

A partir de rastros digitais deixados pelo suspeito, o FBI, a polícia federal norte-americana, identificou e prendeu, nesta sexta-feira (14), Jack Douglas Teixeira, um membro da Guarda Nacional no Estado de Massachusetts. Ele é acusado de ter publicado na internet os documentos confidenciais do Pentágono cujo vazamento, nas últimas semanas, gerou constrangimento e problemas diplomáticos aos EUA com aliados. As informações são do jornal New York Times.

De acordo com o procurador-geral Merrick B. Garland, o jovem de 21 anos será formalmente acusado de “remoção, retenção e transmissão não autorizada de informações classificadas de defesa nacional”. Ao menos em um primeiro momento, as autoridades não divulgaram um motivo para a atitude do acusado, cuja ação levou à revelação de segredos de aliados de Washington.

Pentágono: vazamento é episódio embaraçoso para Washington (Foto: Pixabay/12091)

Embora a prisão do jovem tenha demorado semanas desde que os vazamentos começaram, não foi muito difícil chegar ao nome dele. As fotos dos documentos confidenciais foram publicadas em um canal chamado Thug Shaker Central (Central do Criminoso Agitador, em tradução livre) na rede social Discord, usada sobretudo por jogadores de videogame. Ele fez as publicações com o mesmo perfil, de apelido OG, que usava habitualmente para conversar com outros integrantes.

O Thug Shaker Central tornou-se especialmente ativo durante a pandemia de Covid-19, e OG, ou Jack Teixeira, usava o canal para alertar os demais membros sobre a importância de se manter atualizado sobre os acontecimentos mundiais. Os temas das conversas no canal envolviam sobretudo armas e as forças armadas norte-americanas, além de videogames.

Inicialmente, o jovem divulgou diversas informações confidenciais sem postar imagens de documentos, apenas reproduzindo no grupo de discussões o que havia lido. Posteriormente, decidiu usar as fotos porque achou que seus textos não vinham sendo levados a sério. A partir de então, um segundo usuário repassou as imagens para outras páginas de internet, e dali elas se espalharam.

Os primeiros relatos sugerem que Teixeira teve acesso aos documentos devido às prerrogativas do cargo, “especialista em sistemas de transporte cibernético”, um analista de TI (tecnologia de informação) em redes militares. Ainda assim, a Guarda Nacional tem sido questionada sobre o porquê de um jovem em um cargo técnico ter acesso a dados importantes como relatórios de inteligência.

De acordo com o general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, é da natureza das instituições de defesa confiar em seus jovens “Nós confiamos aos nossos membros muita responsabilidade desde muito cedo. Pense em um jovem sargento de pelotão de combate e na responsabilidade e confiança que depositamos nesses indivíduos para liderar as tropas em combate”, disse ele à agência Associated Press.

A investigação agora vai tentar entender se de fato ele tinha direito a acessar tais informações ou se as obteve de outra maneira.

Os documentos vazados

Alguns dos documentos vazados são classificados como ultrassecretos, e a maioria está relacionada à guerra na Ucrânia. Nesse caso, eles abordam as campanhas de Moscou e Kiev na guerra, descrevem as capacidades dos dois exércitos e fazem projeções para o conflito.

Uma das análises, que não chega a ser novidade, é a de que russos e ucranianos não farão grandes avanços neste ano na região de Donbass. O material contém ainda informações que poderiam ajudar Moscou, como mapas da defesa área ucraniana e detalhes da infiltração de agentes norte-americanos nos serviços de inteligência militar russos.

O que mais incomoda o governo Biden, porém, são as revelações atreladas a aliados de Washington. Por exemplo, o fato de que o Mossad, a inteligência de Israel, teria incentivado seus funcionários e civis israelenses a participarem dos recentes protestos contra o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Revela ainda que a Coreia do Sul, ao contrário do que diz publicamente, planejava enviar munição a Kiev.

Consequências do vazamento

Em um primeiro momento, os efeitos imediatos tendem a ser direcionados a Rússia e Ucrânia, que poderiam mudar suas estratégias militares devido aos segredos supostamente revelados pelos documentos do Pentágono. Já os EUA modificariam as operações de inteligência expostas pelo vazamento, segundo o New York Times.

Porém, o jornal destaca que casos anteriores de documentos expostos tiveram efeitos bem menos severos que os imaginados inicialmente. Como o WikiLeaks, pelo qual foram revelados documentos diplomáticos que, no final das contas, pouco impactaram na relação entre Washington e outras nações. Situação semelhante ocorreu com as revelações feitas por Edward Snowden em 2013, que igualmente tiveram pouco impacto sobre as operações norte-americanas de inteligência.

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