Relatório destaca risco ‘crescente’ de terrorismo nuclear e vê falhas dos EUA na prevenção

Acesso facilitado a material nuclear por grupos radicais e controle frágil de fronteiras elevam o perigo no território norte-americano

O governo norte-americano precisa adotar com urgência medidas mais eficientes de combate ao terrorismo nuclear, considerando o atual cenário de ameaça extremista em mudança. Esta é a conclusão de um relatório de segurança lançado nesta semana pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina, um órgão ligado ao Congresso dos EUA.

Segundo o documento, as medidas de contraterrorismo estão atualmente prejudicadas porque são cada vez mais tênues as linhas que separam grupos terroristas nacionais, estrangeiros, não estatais e apoiados por Estados.

Embora não preveja um ataque iminente com armas nucleares desempenhado por grupos extremistas, a comissão que redigiu o relatório afirma que o “risco é crescente. O argumento é o de que a tecnologia nuclear se expandiu, dando aos radicais acesso mais fácil a material nuclear. Outro problema é o controle deficiente de fronteiras, que permitira a eventual entrada nos EUA de artigos contrabandeados.

Ameaça nuclear: risco de um ataque terrorista é “crescente” (Foto: johnmenadue.com/Creative Commons)

“Durante décadas, os EUA desempenharam um papel indispensável na mobilização e sustentação dos esforços globais para promover a segurança nuclear”, disse Stephen Flynn, professor de ciência política e copresidente do comitê que escreveu o relatório. “Os EUA devem continuar a liderar, construir confiança e reforçar os programas nacionais e internacionais pós-11 de setembro que desempenharam um papel inestimável na gestão bem-sucedida da ameaça do terrorismo nuclear até à data.”

E o risco não se limita a grupos estrangeiros, especialmente facções islâmicas. A ameaça interna é crescente no país, e o relatório inclusive questiona se grupos radicais norte-americanos não deveriam ser adicionados à lista de organizações terroristas designadas por Washington.

“Adicionar os grupos nacionais ao registo de terroristas estrangeiros com os quais têm ligações tornaria ilegal a adesão ou o apoio financeiro a estes grupos terroristas nacionais”, diz o documento.

A situação delicada se aplica também à ameaça de uso de armas químicas em ações extremistas no território norte-americano, de acordo com os autores. “Grupos terroristas nacionais e estrangeiros causaram mais danos com agentes químicos do que com armas biológicas ou radiológicas”, de acordo com o relatório.

Nesse caso, o controle é ainda mais difícil porque a lista de produtos que constituem ou podem constituir ameaças terroristas como armas de destruição em massa é “vasto e está em constante expansão”. Nesse caso, no entanto, o país parece mais protegido porque está acostumado a lidar com casos acidentais de vazamento de produtos químicos, tendo assim agentes capacitados para agir em caso de atentado.

“É impossível identificar, prevenir ou combater todas as ameaças”, disse Timothy Shepodd, também copresidente do comitê. “Mas o relatório recomenda que a comunidade de inteligência continue a monitorar de perto as tendências entre os grupos terroristas para garantir que estamos acompanhando aqueles que estão inovando com a utilização de agentes químicos.”

Nível de ameaça mais alto

O relatório surge conforme aumenta a atenção do governo norte-americano com ameaças terroristas em geral. No começo do mês, duas autoridades do país afirmaram que o risco está excepcionalmente alto neste momento e exige medidas adequadas de prevenção.

“Estou preocupado com a possibilidade de um ataque terrorista no país depois de 7 de outubro”, disse o procurador-geral Merrick Garland no dia 4 de junho, em audiência perante o Comitê Judiciário da Câmara dos EUA, segundo o site Axios. “O nível de ameaça para nós aumentou enormemente”, acrescentou.

Já Christopher Wray, diretor do FBI, a polícia federal norte-americana, falou a uma comissão do Senado no mesmo dia e igualmente comentou o risco extremista islâmico elevado. Segundo ele, é uma ameaça ainda maior devido aos cortes de orçamento nas agências de segurança promovidos por parlamentares dos EUA.

“Percebo a realidade do ambiente em que nos encontramos hoje, com tantas agências enfrentando orçamentos apertados”, disse ele. “E, neste ano, o FBI é uma dessas agências, com nosso orçamento para o ano fiscal de 2024 quase US$ 500 milhões abaixo do que o FBI precisa apenas para manter nossos esforços de 2023.”

O próprio relatório cita este problema, dizendo reconhecer “que os orçamentos de diversas agências são inadequados para fazer face à amplitude das possíveis ameaças”. A falha atinge inclusive as agências governamentais para as quais as armas de destruição em massa são uma prioridade máxima.

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