Rússia promete responder caso os EUA enviem armas nucleares ao Reino Unido

Armamento três vezes mais potente que a bomba de Hiroshima seria posicionado em uma base britânica perto de Londres

A Rússia afirmou que responderá caso os Estados Unidos instalem armas nucleares no Reino Unido. A declaração foi feita por Gennady Gatilov, representante permanente de Moscou na ONU (Organização das Nações Unidas), durante uma entrevista à emissora estatal russa Russia-24, cujo conteúdo foi parcialmente reproduzido pela revista Newsweek.

Gatilov declarou que o Kremlin está atento aos supostos planos de Washington de posicionar armas nucleares em território britânico para lidar com uma “suposta ameaça” da Rússia.

“Estamos falando, talvez, da reativação de uma base aérea com armas nucleares americanas no Reino Unido”, afirmou o diplomata. “Há também discussões sobre a possibilidade de enviar armas nucleares aos Estados Bálticos e à Polônia. Tudo isso gera uma situação tensa. Estamos monitorando os acontecimentos nessa direção. É claro que, se isso se confirmar, a Rússia será obrigada a reagir de acordo.”

Gennady Gatilov, representante permanente da Rússia na ONU em Genebra, durante debate sobre a “situação dos direitos humanos na Ucrânia”, em 2022 (Foto: UN Geneva/Flickr)

As declarações de Gatilov surgem após o jornal The Telegraph relatar que os EUA planejam colocar armas nucleares três vezes mais potentes que a bomba de Hiroshima em uma base da Força Aérea Real (RAf, da sigla em inglês) cem quilômetros ao norte de Londres, segundo documentos do Pentágono. Mísseis nucleares já estiveram em uma base aérea operada pela Força Aérea dos Estados Unidos na Inglaterra, mas foram removidos em 2008 devido à diminuição da ameaça russa.

A Newsweek tentou contato com o Pentágono para comentários. O Ministério da Defesa do Reino Unido afirmou que não confirma nem nega a presença de armas nucleares em locais específicos, seguindo a política da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

A possível implantação de armas nucleares no Reino Unido vem após alertas da aliança ocidental sobre a possibilidade de guerra com a Rússia. Em janeiro, o almirante Rob Bauer, chefe do Comitê Militar da Otan, alertou para a possibilidade de um conflito e aprovou uma decisão da Suécia de alertar sua população civil, preparando-a desde já para o pior dos cenários.

O chefe do Estado-Maior do Reino Unido, general Patrick Sanders, seguiu pelo mesmo caminho e pediu mobilização nacional em caso de guerra com a Rússia. No ano passado, quando surgiram relatos sobre armas nucleares dos EUA no Reino Unido, Moscou alertou que consideraria isso uma “escalada”.

Ameaça crescente

Estudo publicado em junho de 2023 pelo think tank sueco Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI na sigla em inglês) afirma que a ameaça nuclear global aumentou consideravelmente entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, com uma quantidade maior de ogivas à disposição das Forças Armadas das grandes potências.

Em janeiro do ano passado, o estoque global total ogivas era de 12.512, sendo que 9.576 estavam em estoques militares para uso potencial. Trata-se de um aumento de 86 ogivas operacionais em relação ao que se registrava em janeiro de 2022, indicando uma maior prontidão das grandes potências para um eventual ataque.

Dessas mais de 9,5 mil ogivas, 3.844 foram implantadas em mísseis e aeronaves. Já outras duas mil, quase todas pertencentes a Rússia ou EUA, foram mantidas em estado de alerta operacional máximo, o que significa que foram instaladas em mísseis ou mantidas em bases aéreas que hospedam bombardeiros nucleares.

O estudo mostra que Moscou e Washington continuam na liderança absoluta do ranking nuclear, com 90% de todas as ogivas do mundo. A China, porém, tem reduzido a diferença e aumentou seu arsenal ao longo dos últimos anos, tendo gastado US$ 11,7 bilhões no programa nuclear em 2021. Segundo o Pentágono, Beijing tem hoje 500 armas nucleares, contra 350 de 2022.

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