Senador dos EUA pede que Apple e Google removam o TikTok das lojas de aplicativos

Washington teme que o regime de Xi Jinping possa usar a plataforma de vídeos para realizar coleta excessiva de dados de usuários

O senador dos EUA Michael Bennet, democrata do Estado do Colorado e membro do Comitê de Inteligência do Senado, pediu aos CEOs da Apple e do Google que removam o TikTok de suas lojas de aplicativos. Ele alega “graves” preocupações de segurança nacional com a popular plataforma de vídeos da chinesa ByteDance. As informações são da agência Reuters.

“Como a maioria das plataformas de mídia social, o TikTok coleta dados vastos e sofisticados de seus usuários, incluindo impressões faciais e impressões de voz”, escreveu Bennet em uma carta aberta endereçada a Tim Cook, da Apple, e Sundar Pichai, da Alphabet, holding que administra todos os serviços relacionados ao Google

Ele mencionou a Lei de Inteligência Nacional, de 2017, pela qual empresas nacionais chinesas devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que teoricamente as obriga a atender às demandas de Beijing. A manifestação ocorre em meio à desconfiança crescente de Washington com ciberespionagem e a privacidade dos usuários.

“Ao contrário da maioria das plataformas de mídia social, o TikTok representa uma preocupação única porque a lei chinesa obriga a ByteDance, sua controladora com sede em Beijing, a ‘apoiar, auxiliar e cooperar com o trabalho de inteligência do Estado’”, acrescentou o parlamentar no documento, que se tornou público nesta quinta-feira (2).

Ativistas denunciam repressão crescente às mídias digitais no PaquistãoTikTok: rede social chinesa sob desconfiança nos EUA (Foto: Solen Feyissa/Flickr)

Em dezembro, um projeto de lei para banir o TikTok no país foi apresentado por um grupo bipartidário de parlamentares dos Estados Unidos. A votação está prevista para este mês. Se aprovada, a medida deve proibir o uso do aplicativo no país após anos de preocupações dos governos Trump e Biden sobre a suposta influência de Beijing na empresa chinesa. O Congresso já baniu o app dos dispositivos usados pelo governo federal.

“Nenhuma empresa sujeita aos ditames do PCC (Partido Comunista Chinês) deve ter o poder de acumular dados tão extensos sobre o povo americano ou selecionar conteúdo para quase um terço de nossa população”, escreveu Bennet na carta.

TikTok insiste que tais informações são armazenadas com segurança fora da China. O porta-voz da plataforma, Brooke Oberwetter, se pronunciou sobre o assunto. Segundo ele, a empresa vai sanar todas as dúvidas dos parlamentares norte-americanos em uma audiência agendada para março, que terá a presença do seu presidente-executivo, Shou Zi Chew.

“Temos a oportunidade de esclarecer as coisas, e o TikTok planeja apresentar seus planos abrangentes para proteger a segurança dos usuários dos EUA”, disse Oberwetter.

Banida nos EUA

Diversos Estados norte-americanos também baniram o TikTok em dispositivos do setor público. Henry McMaster, governador da Carolina do Sul, emitiu uma carta a funcionários do governo advertindo “que o TikTok representa um perigo claro e presente para seus usuários, e uma crescente coalizão bipartidária no Congresso está pressionando para proibir o acesso ao TikTok nos Estados Unidos”.

O Estado de Indiana, inclusive, anunciou recentemente uma ação judicial contra a ByteDance. No processo, o governo relata falhas de segurança na rede social que causam danos aos jovens e comprometem a privacidade dos usuários, segundo a rede BBC.

Conforme a denúncia, o algoritmo do TikTok promove conteúdo impróprio, “retratando álcool, tabaco e drogas; conteúdo sexual, nudez e temas sugestivos; e palavrões intensos” que não são filtrados mesmo quando direcionados aos menores de idade. Nas lojas de aplicativos de Apple Google, a rede social tem classificação etária de 12 anos, o que o Estado de Indiana considera inapropriado.

Chris Wray, diretor do FBI, a polícia federal norte-americana, reforçou as denúncias globais em novembro, quando falou ao Comitê de Segurança Interna da Câmara dos EUA. Ele afirmou que a lei chinesa exige essencialmente que as empresas “façam o que o governo quiser em termos de compartilhamento de informações ou servindo como uma ferramenta do governo chinês”.

Coleta excessiva de dados

Um estudo divulgado no ano passado pela Internet 2.0, empresa australiana especializada em cibersegurança, reforçou a desconfiança global em torno do TikTok. De acordo com a análise, o aplicativo chinês é “excessivamente intrusivo” e realiza uma “excessiva” coleta de dados dos usuários.

Internet 2.0 decifrou o código-fonte e identificou como uma série de dados está sendo direcionada sem que o usuário perceba. A análise técnica apontou que o aplicativo verifica a localização do dispositivo pelo menos uma vez por hora e tem acesso contínuo ao calendário e aos contatos. Com isso, informações confidenciais estariam sendo enviadas de volta à China.

“O aplicativo móvel TikTok não prioriza a privacidade”, afirmou o relatório. “Permissões e coleta de informações do dispositivo são excessivamente intrusivas e não são necessárias para o funcionamento do aplicativo”.

Conhecido como Douyin em seu país natal, o TikTok também consegue verificar tanto o ID do dispositivo em que está hospedado quanto o disco rígido, o que permite que ele monitore todos os outros aplicativos instalados no aparelho em que se hospeda, dizem os especialistas australianos.

“Se o usuário negar o acesso, ele continua solicitando até que o usuário permita”, disse o relatório.

Outra questão destacada pela análise técnica é o fato de o servidor do TikTok na China ser administrado por uma das gigantes locais nos serviços de nuvem e segurança cibernética

“Também é digno de nota que o TikTok IOS 25.1.1 (a versão que roda em iPhones) tem uma conexão de servidor com a China continental, que é administrada por uma das cem maiores empresas chinesas de segurança cibernética e dados, a Guizhou Baishan Cloud Technology“, informou o relatório.

A descoberta contraria as alegações do TikTok, que diz armazenar os dados do usuário nos EUA e em Singapura. Além disso, o relatório diz ter encontrado evidências de “muitos subdomínios no aplicativo iOS espalhados pelo mundo”, incluindo Baishan, cidade chinesa na província de Jilin.

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