Washington consulta aliados e prepara terreno para sancionar a China por seu apoio à Rússia

Cresceram nas últimas semanas as alegações de nações ocidentais de que Beijing em breve fornecerá armas a Moscou

O governo norte-americano passou a consultar seus aliados a fim de preparar terreno para eventuais sanções a serem aplacadas à China por seu envolvimento na guerra da Ucrânia. Isso porque tem crescido nas últimas semanas a expectativa de que Beijing venha a fornecer armas à Rússia. As informações são da agência Reuters.

As conversas entre os aliados a respeito das punições a Beijing estariam em fase inicial, segundo quatro autoridades norte-americanas e outras fontes cujas identidades foram mantidas em sigilo. Porém, a questão já foi levada informalmente ao corpo diplomático e a funcionários estatais dos EUA.

Os principais interlocutores de Washington têm sido as ricas nações do G7, grupo que, além dos próprios norte-americanos, conta com Alemanha, França, Canadá, Itália, Japão e Reino Unido.

Presidentes da França, Emmanuel Macron (esq.), e dos EUA, Joe Biden, conversam antes da primeira sessão da Cúpula do G7 em de junho de 2021 (Foto: Adam Schultz/White House)
Apoio letal

Por ora, não há indícios de que a China tenha cedido armas às tropas de Vladimir Putin. Porém, segundo a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o governo dos EUA, essa situação pode mudar em breve.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da aliança militar, disse na semana passada que há “sinais de que eles (os chineses) estão considerando e podem estar planejando isso (fornecer armas a Moscou)”. E acrescentou: “A China, é claro, não deveria apoiar a guerra ilegal da Rússia”.

Nesta quinta-feira (2), o chanceler alemão Olaf Scholz reforçou o coro. “Minha mensagem para Beijing é clara: use sua influência em Moscou para pressionar pela retirada das tropas russas”, disse ele, de acordo com a a rede Deutsche Welle (DW). “E não forneça armas à agressora Rússia”. 

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, chegou a alertar Wang Yi, principal diplomata chinês, sobre as “sérias consequências” do apoio militar direto à Rússia. Eles se encontraram durante conferência de segurança em Munique e tiveram, à margem do evento, uma conversa que não estava na agenda oficial de ambos.

O Departamento do Tesouro dos EUA, que habitualmente comanda as sanções econômicas impostas por Washington, se recusou a comentar a questão. Não está claro quais sanções seriam aplicadas ao governo e a empresas da China.

Apoio não letal

No começo do mês, reportagem do Wall Street Journal (WSJ) revelou que a China já forneceu apoio não letal à Rússia. Na lista estariam equipamentos de navegação, tecnologia de interferência e peças de caças, itens proibidos que teriam sido entregues a empresas de defesa do Kremlin embargadas pelas nações ocidentais.

Com base em registros de alfândega fornecidos pela ONG Centro de Estudos Avançados de Defesa (C4ADS, da sigla em inglês) em julho de 2022, o WSJ denuncia que a China enviou dezenas de milhares de remessas de tecnologias de uso duplo, civil e militar, ao complexo militar-industrial russo.

A denúncia foi rechaçada pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Segundo ele, a Rússia possui tecnologia doméstica suficiente tanto para fortalecer sua segurança nacional quanto para coordenar ataques ao país vizinho. Além disso, tal capacidade vem sendo sistematicamente refinada.

A reportagem confirmou que a Rússia consegue produzir a maior parte dos requisitos militares básicos internamente. Porém, depende fortemente de importações de tecnologia de uso duplo. 

Entre os itens sancionados estão semicondutores, ferramentas e softwares avançados norte-americanos ou produzidos a partir de tecnologia dos EUA. São artigos não letais, mas que podem ter uso final ou usuário final no setor militar.

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