China fornece assistência militar à Rússia para sua ofensiva na Ucrânia, diz jornal dos EUA

Estatais chinesas teriam enviado equipamentos de navegação, tecnologia de interferência e peças de caças a empresas de defesa russas

Justificando a parceria “sem limites” anunciada em fevereiro de 2022, pouco antes do início da guerra na Ucrânia, a China tem dando suporte militar à Rússia em sua ofensiva contra Kiev, que completa um ano no próximo dia 24. É o que aponta uma reportagem do Wall Street Journal (WSJ).

Na contramão das sanções ocidentais impostas a Moscou em função do conflito e à sua alegada posição de neutralidade com a guerra em andamento no leste europeu, Beijing tem enviado a empresas de defesa do Kremlin embargadas itens proibidos, como equipamentos de navegação, tecnologia de interferência e peças de caças.

Com base em registros de alfândega fornecidos pela ONG Centro de Estudos Avançados de Defesa (C4ADS, da sigla em inglês) em julho de 2022, o WSJ denuncia que a China enviou dezenas de milhares de remessas de tecnologias de uso duplo, civil e militar, ao complexo militar-industrial russo.

Estatal chinesa enviou US$ 1,5 milhão em peças para uso no caça Sukhoi Su-35 (Foto: WikiCommons)

O apoio de Beijing a Moscou na chamada “operação militar especial” de Vladimir Putin estaria na pauta da visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, à China, que ocorreria no próximo fim de semana. O encontro diplomático acabou adiado após um suposto balão espião chinês ser derrubado por um caça do exército dos Estados Unidos no sábado (4), o qual o governo chinês disse se tratar de um dispositivo de pesquisa meteorológica que saiu de curso acidentalmente.

As informações que constam na reportagem do WSJ foram rechaçadas pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Segundo ele, a Rússia possui tecnologia doméstica o suficiente tanto para fortalecer sua segurança nacional quanto para coordenar ataques ao país vizinho. Além disso, tal capacidade vem sendo sistematicamente refinada.

O WSJ apontou que, de fato, a Rússia consegue produzir a maior parte de seus requisitos militares básicos internamente. Porém, depende fortemente de importações de tecnologia de uso duplo. 

Entre os itens incluídos nas sanções, impostas por uma coalizão de 37 aliados encabeçada pelos EUA, estão semicondutores produzidos com tecnologias, ferramentas e softwares avançados norte-americanos, artigos que podem ter uso final ou usuário final no setor militar. Além disso, as forças russas precisam de câmeras infravermelhas e equipamentos de radar, itens que as represálias econômicas globais prejudicaram o acesso.

Mas, apesar de estar afundada em punições da comunidade internacional, Moscou arrumou um jeito de driblar tais adversidades e buscou novos intercâmbios, que vão além das empresas de defesa estatais chinesas. Particularmente junto a nações que não aderiram à exclusão econômica imposta aos russos. Segundo registros alfandegários, os produtos ainda estão chegando de países como Emirados Árabes e Turquia.

Negócio da China

Os registros alfandegários mostram que Moscou recebeu da estatal chinesa Poly Technologies equipamentos de navegação para uso em helicópteros de transporte militar em agosto do ano passado. Na mesma época, outra companhia controlada pelo governo chinês, a Nanan Baofeng Electronic, mandou uma antena telescópica para o veículo militar.

Pouco depois, em outubro, a chinesa AVIC International Holding Corp despachou US$ 1,2 milhão em peças à AO Kret, uma subsidiária da gigante de defesa estatal russa Rostec. Elas seriam usadas nos caças Su-35 russos.

Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa nos EUA, disse que a acusação de que Beijing fornece ajuda militar à Rússia “não tem base factual” e é “puramente especulativa e deliberadamente exagerada”. 

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