Na terça-feira (3), a polícia de Nova Délhi invadiu as residências de jornalistas ligados a um site de notícias conhecido por fazer críticas ao governo indiano. Quarenta e seis pessoas foram interrogadas e algumas tiveram computadores, celulares e documentos apreendidos como parte de uma investigação com base em uma lei antiterrorismo, gerando preocupações sobre a liberdade de imprensa no país. As informações são da rede CNN.
Os profissionais interrogados são repórteres, editores e colaboradores do NewsClick, um site de notícias independente que questiona as ações do governo do primeiro-ministro Narendra Modi.
Durante a operação, que também ocorreu em redações do veículo, foram presos o fundador e editor, Prabir Purkayastha, e o colega Amit Chakravarty. Uma investigação está em andamento sob a Lei de Prevenção de Atividades Ilícitas (Uapa, na sigla em inglês), uma medida antiterrorismo criticada por sua dificuldade em conceder fiança.
“A polícia de Délhi chegou à minha casa e confiscou meu laptop e telefone”, escreveu o jornalista Abhisar Sharma no X, antigo Twitter. Em outro post, disse que irá continuar “a questionar as pessoas que estão no poder e especialmente aquelas que têm medo de perguntas simples.”
After a day long interrogation by Delhi special cell, I am back home. Each and every question posed will be answered. Nothing to fear . And I will keep questioning people in power and particularly those who are afraid of simple questions . Not backing down at any cost .
— Abhisar Sharma (@abhisar_sharma) October 3, 2023
O NewsClick descreveu os ataques como uma tentativa de “silenciar vozes independentes que contam a verdadeira história da Índia” e condenou fortemente o governo por desrespeitar a independência jornalística, tratando críticos como contestadores ou “promotores de propaganda ‘antinacional'”.
As batidas ocorreram depois que as autoridades indianas abriram um caso contra o site e seus jornalistas no dia 17 de agosto. Isso aconteceu algumas semanas após uma reportagem do The New York Times afirmar que o site recebeu financiamento de um milionário norte-americano que, segundo jornal, apoiou a disseminação de “propaganda chinesa”. O NewsClick negou as acusações.
Criado em 2009, o NewsClick é dos poucos veículos de comunicação indiano que ousa criticar o primeiro-ministro. Segundo a agência Associated Press, sob o governo nacionalista hindu de Modi, várias outras empresas jornalísticas foram investigadas por questões financeiras duvidosas, e observadores internacionais expressaram preocupações sobre a redução da liberdade de imprensa na Índia.
O veículo divulgou uma nota oficial no X.
“O NewsClick tem enfrentado uma série de ações por parte de várias agências do governo indiano desde 2021. Os escritórios e as casas dos funcionários foram invadidos por diferentes órgãos (…) Dispositivos, como laptops, gadgets e telefones, foram apreendidos. E-mails e comunicações foram minuciosamente examinados, assim como extratos bancários, faturas e fontes de recursos do NewsClick ao longo dos anos. Diretores e outras pessoas ligadas à organização foram interrogados extensivamente em várias ocasiões por essas agências governamentais. No entanto, nos últimos dois anos ou mais, o governo não conseguiu apresentar uma queixa formal acusando o NewsClick de lavagem de dinheiro.”
STATEMENT BY NEWSCLICK
— NewsClick (@newsclickin) October 4, 2023
Yesterday, on 3rd October, 2023, raids were carried out by the Special Cell of the Delhi Police at various locations including Newsclick’s offices, residences of journalists and employees – past and present, consultants, and freelance contributors…
O ministro de Informação e Radiodifusão da Índia, Anurag Thakur, afirmou em coletiva de imprensa que “se alguém cometeu algo de errado, as agências de busca têm a liberdade para conduzir investigações contra essas pessoas”.