EUA projetam ‘grave incidente’ se a tensão não diminuir no Mar da China Meridional

China combina "poder militar com uma maior disposição de assumir riscos", de acordo com uma autoridade norte-americana

O Mar da China Meridional, alvo de disputa entre cinco países e local de frequente hostilidade envolvendo a China, pode se tornar cenário de um “grave incidente”. O alerta foi dado por autoridades norte-americanas na terça-feira (26), durante uma conferência política no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington. As informações são da rede Radio Free Asia.

Presente no painel, Ely Ratner, secretário-assistente de Defesa para Assuntos de Segurança do Indo-Pacífico, afirmou que a China representa o principal desafio na região sob o ponto de vista da segurança, principalmente por conta de um comportamento que mistura elementos preocupantes, na visão dele.

“Vemos Beijing combinando poder militar com uma maior disposição de assumir riscos”, disse Ratner.

Para ele, se o Exército de Libertação Popular (ELP) da China seguir com esse padrão de comportamento, a região fica mais próxima de um conflito. “É apenas uma questão de tempo até que ocorra um grave incidente ou acidente na região”, disse Ratner.

Frota naval da China na base de Hickam, Havaí, EUA, em setembro de 2013 (Foto: Picryl/U.S. Navy)

Jung Pak, subsecretária-adjunta para Assuntos Multilaterais e para questões da China Global do Gabinete de Assuntos do Leste Asiático e do Pacífico, corroborou as questões levantadas por Ratner. “Há uma tendência clara e ascendente de provocações de Beijing contra os requerentes do Mar da China Meridional e outros estados que operam legalmente na região”, disse ela.

O território é uma das regiões mais disputadas do mundo, sendo reivindicada, além de Beijing, por Filipinas, Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan

Ratner citou algumas das atitudes da China na região para sustentar seu pensamento. Entre elas, o bloqueio de navios de abastecimento filipinos e interceptações de aeronaves canadenses, que agravou a crise diplomática entre os países. Também citou um incidente envolvendo aviões australianos, em maio, quando, em uma manobra perigosa, um caça J-16 chinês interceptou uma aeronave de vigilância P-8.

“Beijing está testando sistematicamente os limites de nossa determinação coletiva e promovendo um novo status quo no Mar da China Meridional que vai contra nosso compromisso compartilhado com o respeito à soberania, resolução pacífica de disputas e adesão ao direito internacional”, disse Ratner, que solicitou uma presença de combate “confiável” na região.

Escalada de agressividade

No início desta semana, o principal comandante militar norte-americano criticou o ELP pelo que classificou como o comportamento “mais agressivo e perigoso” dos últimos cinco anos contra as forças dos EUA e seus aliados do Indo-Pacífico.

“A mensagem é que os militares chineses, no ar e no mar, tornaram-se significativamente e visivelmente mais agressivos nesta região em particular”, disse durante coletiva de imprensa o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, rebateu os comentários. “Algumas pessoas nos EUA se apegaram à mentalidade da Guerra Fria e continuam fazendo referências a um ‘desafio da China'”, disse elea repórteres. “Quem tem desafiado a paz, a segurança e a estabilidade regionais? E quem é mais agressivo? Os fatos falam por si”.

Há tempos Beijing acusa as autoridades norte-americanas de “incitar confronto” na hidrovia, “sob o pretexto de preservar a estabilidade”.

Ainda na conferência em Washington, Pak abordou possíveis esforços diplomáticos na região. “O combate às táticas de Beijing no Mar da China Meridional não é apenas uma questão militar. Estamos liderando uma estratégia de dissuasão integrada em todo o governo que prioriza a diplomacia, o desenvolvimento, o engajamento econômico e o cumprimento da lei internacional”, disse ela.

Por que isso importa?

Os chineses ostentam o segundo maior orçamento de defesa do mundo, ficando atrás somente dos EUA. O país asiático tem se empenhado em uma modernização vertiginosa de suas forças com sistemas de armas, incluindo o caça J-20 – o jato de combate stealth mais avançado da China –, mísseis hipersônicos e dois porta-aviões, sendo que um terceiro está em construção.

Em artigo publicado no jornal South China Morning Post em janeiro deste ano, Mark J. Valencia, analista de política marítima, comentarista político e consultor internacionalmente reconhecido com foco na Ásia, fez uma previsão alarmante.

“A China e os EUA estão flertando com um desastre no Mar da China Meridional. Eles estão se apalpando como pugilistas no primeiro assalto. Até agora, eles evitaram uma colisão frontal, mas esta pode ser apenas a calmaria antes da severa tempestade militar”, disse ele no texto.

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