Xi Jinping assina medida militar que aumenta o temor de um ataque a Taiwan

Norma autoriza o exército a realizar operações de “não-guerra”, o que viabilizaria uma "operação militar especial"

O presidente da China, Xi Jinping, assinou uma norma que autoriza o exército a realizar operações de “não-guerra”. A medida, que entra em vigor nesta quinta-feira (16), alimenta o temor de que Beijing possa estar posicionando suas peças para invadir Taiwan sob a justificativa de uma “operação especial”, tal e qual Moscou define sua incursão na Ucrânia. As informações são da rede Radio Free Asia.

Taiwan nunca esteve sob controle do Partido Comunista Chinês (PCC), que tem a ilha como uma “província rebelde”. O território semiautônomo também nunca fez parte da parte da República Popular da China, que insiste que o local é parte dos seu domínios pelo princípio “Uma Só China”. Os taiwaneses defendem sua independência e dizem que nunca foram governados.

Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, que na segunda-feira (13) apresentou a diretriz de forma resumida, a medida “regula principalmente e sistematicamente princípios básicos, organização e comando, tipos de operações, apoio operacional e trabalho político e sua implementação pelas tropas” e “fornece uma base legal para operações militares sem guerra”.

Xi Jinping no discurso do centenário do Partido Comunista Chinês (Foto: divulgação/cpc.people.com.cn)

Entre os objetivos especificados no documento de seis capítulos constam “manter a soberania nacional, a estabilidade regional e regular a organização e implementação de operações militares não relacionadas à guerra”.

A notícia veio logo após o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ter pedido uma solução diplomática para a ameaça de ação militar no Estreito de Taiwan durante participação no fórum de segurança Shangri-La Dialogue, realizado em Singapura no domingo (12). Na ocasião, o líder ucraniano usou seu país como exemplo ao instar autoridades globais para que “sempre apoiem qualquer ação preventiva” para evitar guerras.

Aproveitando o gancho, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, alertou durante o evento que “a Ucrânia hoje pode ser o leste da Ásia amanhã”.

Diplomacia ou alinhamento declarado?

Na opinião de Chen Chi-chieh, professor associado de ciência política da Universidade Nacional Sun Yat-Sen de Taiwan, Zelensky tem sido cuidadoso e usado de cautela para não despertar a ira de Beijing, que poderá ser um parceiro importante ao término do conflito para reerguer as áreas destruídas.

“Ele é inteligente o suficiente para não querer provocar a China, então ele não pode falar muito claramente sobre a questão de Taiwan, tendo que abordar de maneira sutil”, disse Chen, acrescentando que o mandatário ucraniano disse que há muitas áreas nas quais a Ucrânia depende da assistência chinesa e provavelmente contará com ela para a reconstrução do pós-guerra.

O professor ainda lembrou que os laços entre Kiev e Taiwan não são tão estreitos. Então, Zelensky não precisa sacrificar o relacionamento entre seu país e a China para apoiar a ilha semiautônoma.  

Por outro lado, há quem veja o presidente ucraniano indo na direção de Washington. Para o comentarista político baseado em Beijing Wu Qiang, Zelensky parece estar buscando harmonia com objetivos políticos dos EUA na região do Indo-Pacífico.

“Todos os países estão fazendo essas comparações, mas Zelensky está fazendo questão de fazê-las”, disse Wu. “Acredito que ele está retribuindo [em troca do apoio dos EUA]. Ele está apoiando os objetivos estratégicos dos Estados Unidos na região”.

China vê conluio ocidental

Também presente no fórum em Singapura, o ministro da Defesa chinês, Wei Fenghe, fez comentários contundentes sobre a estratégia de Washington na região da Ásia-Pacífico, a qual classificou como uma tentativa de formar uma “panelinha” para conter seu país. 

“É uma tentativa de construir um pequeno grupo exclusivo para sequestrar países em nossa região”, criticou Fenghe, que continuou: “É uma estratégia para criar conflito e confronto para conter e cercar outros”, disse o ministro, que também é general do Exército de Libertação Popular da China (ELP).

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que a tratem como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação entre Taipé e Washington, desde 2020 a China endureceu a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.

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