Autoridades chinesas prenderam quatro adolescentes tibetanos de uma escola ligada a um monastério budista após os jovens se recusarem a serem transferidos para escolas controladas pelo governo chinês. As informações são da rede Radio Free Asia.
Os adolescentes, com idades entre 15 e 18 anos, estudavam na escola do Monastério Lhamo Kirti, no Condado de Dzoge, Sichuan, onde as aulas eram ensinadas em tibetano e incluíam estudos budistas. Em julho, a escola foi fechada pelas autoridades chinesas, que alegaram que menores de 18 anos não podiam receber educação monástica – tipo de ensino oferecido em mosteiros, principalmente focado em práticas e valores religiosos, filosóficos e espirituais.
Os adolescentes, que se opuseram à transferência para aulas que eram apenas em mandarim e com foco no “Pensamento de Xi Jinping“, foram detidos no dia 2 de outubro para passar por “reeducação política” e liberados no domingo (6).
Apresentada no Congresso Nacional do Povo em 2023, a medida, que visa a doutrinar a juventude com propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC) e de seu líder, determina que as escolas e organizações voltadas para crianças e jovens ofereçam educação ideológica e política, abrangendo a história oficial do partido, símbolos nacionais, “unidade nacional” e “segurança nacional”.
Os cerca de 600 estudantes escola do Monastério Lhamo Kirti foram avisados de que, em vez da educação monástica, teriam que frequentar escolas controladas pelo governo, onde todas as aulas são ministradas apenas em mandarim. Agora, eles são obrigados a frequentar escolas governamentais, como parte dos esforços contínuos da China para assimilar a população tibetana em sua política de “Sinicização”.
Nessas instituições, além das matérias regulares, os alunos também são obrigados a estudar a ideologia política do presidente chinês Xi Jinping.
Por gerações, meninos tibetanos com 5 ou 6 anos de idade iam a mosteiros para receber educação e treinamento religioso, onde aprendiam em tibetano. No entanto, desde 2018, a China tem forçado esses meninos a deixar os mosteiros e a frequentar internatos administrados pelo governo, onde as aulas são ensinadas em mandarim.
As escolas residenciais ou internatos, onde as crianças estudam e vivem, oferecem um conteúdo centrado na cultura Han, da maioria chinesa, obrigando a minoria tibetana a aprender o currículo em língua chinesa, ou putonghua, sem nenhum acesso ao aprendizado tradicional e relevante culturalmente.
Educação compulsória
Um relatório de 2021 do Tibet Action Institute, sediado nos EUA, revelou que centenas de milhares de crianças tibetanas, com idades entre 4 e 18 anos, estavam sendo separadas de suas famílias e obrigadas a residir em internatos estatais, frequentemente resultando na perda de sua habilidade de falar tibetano.
O relatório observa que os educadores usam exclusivamente o mandarim como língua de instrução, conduzindo todo o currículo, incluindo atividades como canções de ninar e histórias para dormir, em mandarim. As consequências para a identidade tibetana ao longo de gerações são profundas e problemáticas.
As autoridades justificam essa educação compulsória como uma maneira de levar educação aos tibetanos, espalhados por vastas áreas geográficas.