Polícia chinesa é acusada de torturar e matar tibetano por rezar em público

Dois exilados alegam que cinco homens foram presos porque acenderam incenso e iniciaram um ritual religioso budista

Autoridades chinesas teriam prendido e torturado cinco tibetanos, sendo que um deles morreu em função da violência. O crime deles: acender incenso e rezar em público. A denúncia foi feita por dois exilados que falaram com a rede Radio Free Asia.

Os cinco homens estavam rezando pela saúde do líder espiritual tibetano exilado, o Dalai Lama, que Beijing considera oficialmente um “separatistas perigoso”. Segundo as fontes, a ação não desrespeitou qualquer lei da China ou da província de Sichuan, onde ocorreu o episódio.

“Os tibetanos presos foram nomeados pelos tibetanos locais da área para liderar atividades religiosas”, disse um dos exilados, que pediu anonimato por razões de segurança. “Em meio à crescente repressão religiosa do governo chinês em Serta e Golog (condados chinesas), os tibetanos não têm permissão nem para pendurar bandeiras de oração na frente de suas próprias casas”.

Monastério Drepung, em Lhasa, Tibete (Foto: Birger Hoppe/Flickr)

Segundo ele, as autoridades proibiram inclusive o ritual do Sang-sol, que inclui a queima de incenso. O argumento é o de que o procedimento é prejudicial ao meio ambiente.

Detidos, os acusados foram levados a uma prisão na prefeitura autônoma tibetana de Kardze, onde teriam ocorrido as sessões de tortura. Um homem identificado como Chugdhar, de 52 anos, morreu, mas a polícia nega que tenha sido em função das agressões.

“A polícia até ofereceu cem mil yuans à família dele (R$ 72,9 mil) e concordou em pagar mais dez mil (R$ 7,29 mil) por ano se eles apenas levassem o corpo de Chugdhar com eles. Mas foi apenas um truque da polícia chinesa para fazê-los levar o corpo, porque a família nunca recebeu o dinheiro prometido”, disse uma segunda fonte.

Os exilados alegam que a família da vítima foi convocada para buscar o corpo no dia 26 de agosto, sendo então obrigada a assinar um documento afirmando que a polícia local não teve qualquer relação com morte, oficialmente classificada como “repentina”. Os outros quatro indivíduos seguem detidos à espera de julgamento e sem acesso aos familiares.

Por que isso importa?

A ocupação chinesa no Tibete, uma das regiões mais fechadas e politicamente sensíveis da China, começou em 1950, quando as tropas do ELP (Exército de Libertação Popular) invadiram a região e assumiram o controle em um episódio que se convencionou chamar de “libertação pacífica”.

Na ocasião histórica, a artilharia esmagou a resistência tibetana, executou os guardas do líder espiritual e destruiu mosteiros de Lhasa. Diante do cenário de destruição, o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso fugiu para a Índia em 1959 e vive exilado até hoje.

Desde então, as autoridades chinesas mantêm um forte controle sobre o Tibete e as regiões povoadas por tibetanos no oeste do território chinês. As atividades políticas e a expressão pacífica da identidade cultural e religiosa são restritas, com denúncias constantes de prisão, tortura e execuções extrajudiciais.

Gyatso, por sua vez, é classificado por Beijing como um “separatista perigoso”. Como ele vive no exílio, o o atual Panchen Lama, número dois na hierarquia budista, é reconhecido pelo Partido Comunista Chinês (PCC) como a mais alta figura religiosa do Tibete.

Mesmo essa questão, porém, gera controvérsia. Beijing considera o atual Panchen Lama como sendo Gyancain Norbu, enquanto o governo tibetano no exílio defende que é Gedhun Choekyi Nyima, preso pelo governo chinês em 1995 e desde então com paradeiro desconhecido.

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