Aliança ‘à prova de intempéries’ com a Venezuela fortalece presença chinesa nas Américas

Beijing ganha terreno no tradicional 'quintal' dos EUA, firmando parcerias em setores como tecnologia e infraestrutura crítica

Xi Jinping, presidente da China, se reuniu na quarta-feira (13) em Beijing com o homólogo venezuelano Nicólas Maduro. Os dois líderes comunistas assinaram acordos de cooperação bilateral em áreas como tecnologia, economia e aeroespacial, com a promessa chinesa de que a parceria é firme e indissolúvel. Uma preocupação a mais para as nações ocidentais lideradas pelos Estados Unidos, que observam o avanço chinês no tradicional “quintal” norte-americano.

Os acordos com Caracas estão inseridos na Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), um projeto de Xi que usa bancos e empresas da China para financiar e construir rodovias, usinas de energia, portos, ferrovias, redes 5G e outros projetos em todo o mundo, espalhando assim a influência de Beijing.

Xi e Maduro em Beijing: aliança “à prova de intempéries” (Foto: divulgação/governo da China)

Ao comentar o encontro e assinatura dos novos acordos, Xi disse que ele e Maduro são “bons amigos com confiança mútua”, de acordo com a agência Al Jazeera.” E classificou a aliança entre China e Venezuela como uma “parceria estratégica à prova de intempéries.”

Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, saudou os laços com a Venezuela como “sólidos como rocha”, chamando os dois países de “parceiros estratégicos abrangentes.”

O jornal Global Times, gerido pelo Partido Comunista Chinês (PCC), afirmou que a “China sempre encarou o desenvolvimento da sua relação com a Venezuela numa perspectiva estratégica e de longo prazo.” E citou os Estados Unidos ao contestar as “sanções unilaterais ilegais” impostas ao país sul-americano, “o que representou um duro golpe para o desenvolvimento” venezuelano.

O presidente chinês também se referiu veladamente a Washington em seu discurso. “Continuaremos a apoiar firmemente os esforços da Venezuela para salvaguardar a soberania nacional, a dignidade e a estabilidade social, bem como a sua justa causa contra a interferência externa”, teria dito Xi, de acordo com o periódico comunista.

Ainda segundo o jornal, a China manifestou apoio às pretensões da Venezuela de ingressar no BRICS, grupo formado por BrasilRússiaÍndiaChina e África do Sul, que no final de agosto anunciou novos membros, quais sejam ArgentinaEtiópiaIrãArábia SauditaEgito e Emirados Árabes Unidos.

“A Venezuela reiterou o seu interesse em aderir ao BRICS e prometeu contribuir como fornecedor confiável de energia com as grandes reservas de petróleo e gás natural do país”, afirmou o Global Times.

China ganha terreno nas Américas

O fortalecimento da aliança com a Venezuela surge no momento em que a China ganha terreno nas Américas, ampliando sua zona de influência para muito perto dos Estados Unidos.

Um sinal desse avanço foi a adesão da Argentina à BRI no início de 2022. A parceria prevê, entre outras coisas, o uso de tecnologia chinesa na rede 5G argentina, o que levou a oposição local a se manifestar, alertando para o risco de ciberespionagem por Beijing.

Em julho deste ano, a general Laura Richardson, chefe do Comando Sul (Southcom, na sigla em inglês) das forças armadas dos EUA, alertou para o perigo do avanço chinês, em entrevista à revista Newsweek. E destacou a tecnologia 5G como uma importante arma de espionagem a favor de Beijing.

“Se você já possui uma rede 3G ou 4G, é claro que a RPC (República Popular da China) oferecerá um desconto ou uma atualização quase gratuita para 5G. E, certamente, eles desejam assumir a rede do governo”, declarou.

A apreensão de Richardson, entretanto, não se limita às redes 5G. Segundo ela, mesmo as obras de infraestrutura, principal cartão de visitas da BRI, podem atender a interesses escusos de Beijing. Inclusive militares.

“O que me preocupa é o uso duplo, passando para a aplicação militar, se necessário”, afirmou. “Eles já colocaram suas garras na infraestrutura crítica, e essa é minha maior preocupação como comandante militar e como comandante do Southcom.”

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