As comunidades rohingya no norte de Mianmar vivem sob um cenário cada vez mais crítico, marcado por trabalho forçado, crises alimentares e de saúde, severas restrições de movimento e crescente violência armada, alerta a ONG Anistia Internacional (AI). A organização questiona decisões de repatriar refugiados de Bangladesh sem garantir segurança e direitos básicos.
A Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) realiza nesta terça-feira (30) uma Conferência de Alto Nível sobre a situação dos muçulmanos rohingya e outras minorias em Mianmar. O objetivo é definir um plano para o retorno de mais de um milhão de refugiados que vivem em Bangladesh, após expulsões violentas entre 2016 e 2017. Especialistas e testemunhos de refugiados, coletados pela AI, apontam que o retorno é prematuro e arriscado.

Segundo o relatório, regiões do estado de Rakhine agora controladas pelo Exército Arakan vivem sob forte restrição: pesca proibida para rohingya, bloqueio de ajuda humanitária, trabalho forçado, deslocamentos controlados e detenções arbitrárias. O Exército Arakan também restringe acesso a educação, saúde e suprimentos básicos, agravando uma crise humanitária que afeta mais de 1,2 milhão de refugiados e deslocados.
Testemunhos recolhidos mostram condições de extrema vulnerabilidade: crianças morrendo de diarreia, famílias passando fome, medo constante de violência e expulsões. Especialista afirmam que a situação sob o Exército Arakan é pior que sob o controle militar anterior, com discriminação sistemática contra os rohingya.
A Anistia Internacional reforça que qualquer tentativa de repatriação precisa considerar esses riscos, assegurando proteção real e duradoura às comunidades. “Não basta uma conferência internacional, é preciso garantir que retorno não signifique regressar a condições de opressão e perigo”, afirmou Joe Freeman, pesquisador da AI.
Por que isso importa?
Os rohingyas compõem um grupo étnico muçulmano minoritário de Mianmar, no sudeste da Ásia. Embora vivam nos estados de Rahkine e Chin, no oeste do país, não têm direito à cidadania e são perseguidos pelas autoridades locais, com relatos de assassinatos, estupros e outros abusos.
Investigações indicam que os militares birmaneses foram responsáveis por atrocidades que incluem mutilações, crucificações, queima e afogamento de crianças, numa ação deliberada de “limpeza étnica” hoje classificada globalmente como genocídio. Ativistas de direitos humanos pressionam há tempos por esforços internacionais para responsabilizar Mianmar por crimes contra a humanidade.
Diante desse cenário, cerca de um milhão de pessoas da minoria fugiram para Bangladesh desde 2017, sendo abrigados em precários campos para refugiados como o de Cox’s Bazar, o mais superlotado do mundo.
Outros 600 mil rohingyas continuam em Mianmar, vivendo sob as leis opressivas do governo militar que comanda o país. A perseguição é tão violenta que tornou-se habitual as pessoas lotarem embarcações rumo a Bangladesh, embora as condições que os esperam no destino sejam terríveis e o trajeto até lá seja extremamente perigoso.